Wolfwalkers (2020)



WOLFWALKERS

Direção: Tomm Moore, Ross Stewart

Ano: 2020

País de origem: Irlanda / Luxemburgo / França

    Texto escrito por Matheus Costa

    As animações possuem uma magia muito especial que não se restringe apenas às crianças, sendo capazes de despertar as mais diferentes emoções em indivíduos de todas as idades, classes sociais e culturas. Claro que isso só acontece quando os realizadores não menosprezam a inteligência de seu público com roteiros cheios de clichês e uma linguagem pobre. Este, com certeza, não é o caso da Pixar e de seus filmes mais cultuados, como Toy Story, Divertidamente e UP. O mesmo pode ser dito daquele que é meu estúdio favorito quando se trata de animações: Studio Ghibli, liderado pelo mestre Hayao Miyazaki. Além destes, visto o que foi produzido nestes últimos anos, é impossível não mencionar o Cartoon Saloon.

    Após Uma Viagem ao Mundo das Fábulas, A Canção do Oceano e A Ganha-Pão, o estúdio lança, este ano, seu mais novo trabalho. Depois de uma passagem pelo Festival de Toronto, Wolfwalkers chega ao Festival de Cinema de Londres como um dos principais destaques da edição 2020. A história situa-se na Irlanda durante o período de colonização inglesa. Na busca por conseguir mais terras para a realeza, os oficiais precisam destruir uma floresta, mas uma matilha de lobos que habita aquele local entra em seu caminho. Para enfrentar essa ameaça, um caçador profissional é chamado. Trata-se de Bill Goodfellowe (Sean Bean), um homem que ao mesmo tempo precisa cuidar sozinho de sua filha Robyn (Honor Kneafsey), uma garota que é constantemente rejeitada pelos moradores da cidade pelo seu comportamento.

    Diante de tantas animações mainstream optando pela utilização de efeitos computadorizados para compor suas imagens, os diretores Tomm Moore e Ross Stewart vão pelo caminho oposto. Assim como em seus trabalhos anteriores (que compõem uma trilogia não oficial sobre a Irlanda e seus contos folclóricos), eles utilizam predominantemente técnicas manuais para ilustrar as belas construções visuais. Há a presença de um traço muito próprio do estúdio, mas em uma qualidade não vista em seus longas anteriores.

    Este cuidado estilístico pode ser bem elucidado pelo forma como a cidade e a floresta são representados. Enquanto o ambiente urbano possui linhas duras e ângulos acentuados, a natureza é ilustrada em linhas leves e suaves. Da mesma forma, as cores, tão vibrantes e fortes da floresta, dão lugar a uma paleta mais fria na cidade, predominando o cinza e o marrom. Estas escolhas estéticas são utilizadas exatamente para demonstrar visualmente o tema mais relevante do filme: a questão ambiental. Em um mundo em que a humanidade não se importa com o planeta no qual vive, é difícil ter forças para esperar um futuro otimista. Mas produções como Wolfwalkers têm uma magia tão própria para falar a respeito que conseguem até mesmo despertar um pouco de esperança naqueles que se despõem a tal (algo muito parecido com Princesa Mononoke).

    Além disto, há alguns outros temas presentes na obra, como empoderamento feminino e colonialismo. Porém, o que acaba se manifestando de maneira mais forte é o fator humano, principalmente na relação pai e filha, assim como na amizade entre Robyn e Mebh (Eva Whittaker). Existem alguns momentos realmente emocionantes, a exemplo do final catártico e de um monólogo de Bill para a filha, contando com um excelente trabalho de voz de Bean (o melhor do filme).

    Em tempos de dominação de grandes empresas por trás das animações, como Disney/Pixar e Netflix, este trabalho do Cartoon Saloon é algo realmente significativo e único. Mesmo recorrendo a um certo tom melodramático em determinadas passagens, Wolfwalkers é mais um exemplar da força das animações fora de Hollywood nos últimos anos, juntando-se a longas como Perdi Meu Corpo, Your Name, A Tartaruga Vermelha e a obra-prima brasileira O Menino e o Mundo.

FESTIVAL DE CINEMA DE LONDRES 2020

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