No Ordinary Man (2020)

 



NO ORDINARY MAN

Direção: Aisling Chin-Yee, Chase Joynt

Ano: 2020

País de origem: Canadá

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    Em meu último texto da cobertura do Festival de Toronto, sobre o francês A Good Man (2020), ressaltei que esse era mais um caso de transface, onde uma equipe de pessoas cis tenta contar a história de um homem trans, em uma abordagem que busca constantemente mostrar as barreiras que a sociedade coloca em seu caminho, mas acaba entregando um filme sem vida. Talvez porque, assim como eu, eles não conhecem aquela realidade. É exatamente o oposto do que acontece aqui.

    Os diretores Aisling Chin-Yee e Chase Joynt estreiam seu novo documentário No Ordinary Man, sobre a história do músico americano de jazz Billy Tipton, que fez um relativo sucesso durante as décadas de 1940 e 1950. No entanto, com sua morte veio a revelação de que ele era um homem transexual, uma notícia que era novidade até para a própria família. Esta, inclusive, teve que passar por um inferno após as diversas notícias sensacionalistas da mídia, que insistia em tratar Billy como "ela".

    Fugindo de muitos dos clichês presentes em documentários biográficos e da armadilha de contar uma história tão importante por um ponto de vista impessoal, os diretores decidem não contar propriamente a vida de Billy Tipton, mas o seu legado. Vários atores trans são chamados para uma audição com o objetivo de interpretarem o músico em um filme sobre ele. Porém, o filme já está acontecendo. A voz de Tipton, escondida durante sua passagem pela vida, agora ganha a oportunidade de se expressar, mas através das vozes daqueles aos quais ele inspirou.

    Sem apelar para uma equipe alheia ao que está sendo contado, o documentário se estabelece como uma grande expressão de representatividade, utilizando a história de Tipton para falar sobre o que é ser um homem trans em nossa sociedade cheia de preconceitos. Várias entrevistas (todas com pessoas trans, com exceção do filho de Billy - em uma participação emocionante) são apresentadas para introduzir o espectador em uma realidade que a grande maioria desconhece (inclusive eu) e mostrar como avançamos 30 anos depois da morte do músico americano e o quanto ainda estamos longe de propiciar uma convivência igualitária a quem não se atém aos padrões de "comum" impostos pela sociedade.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE TORONTO 2020



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capitu e o Capítulo (2021)

Mangrove (2020)

Oscar 2022: Apostas para as Nomeações