O Que Me Faz Pular (2020)

 



O QUE ME FAZ PULAR

Direção: Jerry Rothwell

Ano: 2020

País de origem: EUA / Reino Unido

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    Logo no início de sua projeção, o documentário contextualiza a obra base na qual foi baseado, um livro de mesmo nome escrito por Naoki Higashida sobre sua experiência pessoal de crescer como uma criança autista que não tinha a capacidade de se comunicar através da fala. Como destacado nos créditos iniciais, a obra revolucionou a forma como o mundo enxerga o autismo, pois todas as palavras surgem da própria vivência autista, não de algum cientista que pode até entender as bases biológicas da condição, mas que nunca entenderá o que é viver com ela.

    O trabalho de adaptação feito pelo diretor britânico Jerry Rothwell é fantástico, pois ele decide contar aquela história não apenas através dos relatos de Higashida, mas de alguns outros autistas ao redor do mundo, trazendo realidades tão diferentes ao mesmo tempo em que mostra a universalidade do que é mostrado no livro. Cinco vidas são investigadas ao longo do filme, mas todas são sobrepostas pela narração de trechos da obra base, constituindo coesão à narrativa.

    As decisões criativas da equipe técnica são geniais ao transformarem o documentário em uma experiência imersiva na forma como pessoas autistas percebem o mundo ao seu redor. O narrador, em certo momento, fala que eles percebem primeiramente os pequenos detalhes para depois enxergar o todo. Por isso, a direção de fotografia decide utilizar, na maior parte do longa, planos muito fechados e lentes teleobjetivas com uma profundidade de campo muito reduzida, ao mesmo tempo em que isto isola os personagens do resto do ambiente. A mixagem também trabalha muito bem durante o relato do jovem Joss, que costuma tampar os ouvidos quando está estressado, o que é reproduzido no filme pelo abafamento dos sons nesses momentos. 

    Higashida também afirma que as pessoas autistas não costumam diferenciar o que está acontecendo no momento de memórias de muito tempo atrás. Então, a montagem insere constantemente imagens de arquivo da infância de Joss durante o seu relato, assim como corta de momentos de surto psicológico para cenas de afeto, enquanto a narração fala sobre instabilidade emocional. A edição também cria um raccord de movimento muito significativo no relato da indiana Amrit, passando de uma imagem de um objeto que ela usa para fazer arte direto para uma imagem de um pneu em movimento, criando uma metáfora visual sobre como a arte é sua força motriz, uma maneira que ela encontrou de se comunicar sem palavras.

    Embora todos os relatos sejam muito fortes e tenham sua importância para a narrativa, o fato de o tempo não ser bem administrado e alguns acabarem ganhando mais foco que outros, acaba tornando o filme episódico e enfraquecendo seu ritmo. Além disso, o último ato é usado para condensar todas as histórias, mas acaba se perdendo e não consegue criar um final tão forte quanto outras passagens do filme.

    Mas, afinal, O Que Me Faz Pular? A resposta é trazida ao público através da narração em off, em uma das passagens mais poéticas do livro de Higashida, o qual eu não vejo a hora de conseguir ler. O diretor imerge o espectador na vida, nas sensações e nas dificuldades de pessoas autistas sem fala, construindo o documentário como uma maneira de criar empatia. E, como o narrador fala no final, é apenas a partir do momento em que entendemos essas pessoas, que o futura delas pode estar entrelaçado com o nosso.

FESTIVAL DE CINEMA DE LONDRES 2020

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