#01 Mostra de São Paulo 2020

 

    A 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo acontece entre os dias 22 de outubro e 4 de novembro, majoritariamente de forma on-line. A programação conta com 198 filmes, vindos de 71 países, que serão apresentados nas seções Perspectiva Internacional, Competição Novos Diretores, Mostra Brasil e Apresentação Especial.

    Acompanhem a cobertura completa da Mostra deste ano aqui no Cine Odisseia. Críticas dos filmes serão postadas ao longo de toda a realização do evento.



MÃES DE VERDADE

Direção: Naomi Kawase

Ano: 2020

País de origem: Japão

    Selecionado para o Festival de Cannes deste ano, Mães de Verdade é o mais novo trabalho da diretora japonesa Nami Kawase. O filme apresenta a história de um casal que é impossibilitado de conceber um filho naturalmente e recorre a uma organização que cuida de grávidas que desejam que seus filhos sejam dados para a adoção após o nascimento. Após alguns anos, uma mulher procura a família e pede para que devolvam seu filho ou que eles lhe deem dinheiro para que ela não conte a todos que o garoto é adotado. Mas aquela mulher é mesmo a mão dele?

    Tentando fugir das convenções tradicionais da estrutura do drama, a diretora e a montagem optam por trabalhar a narrativa em linha não cronológica, ao mesmo tempo em que entrelaça a história do casal com o da mãe do criança. Esta proposta funciona muito bem, já que detalhes são revelados ao público em momentos específicos, sendo capaz de criar um certo suspense sobre certos acontecimentos, além de ajudar a criar um estudo da personagem interpretada pela atriz Aju Makita de forma bem dinâmica.

    No entanto, este inteligente trabalho de montagem e estruturação de roteiro não é capaz de compensar as falhas deste último. O filme apresenta momentos de melodrama desnecessários e subtramas que não acrescentam em nada à narrativa, tornando o longa cansativo em certas passagens. Kawase apresenta uma história sensível, mas não consegue desenvolvê-la da melhor maneira, apelando para uma construção dramática que tenta ao máximo arrancar lágrimas do público, mas o perde exatamente por isso.





SUOR

Direção: Magnus von Horn

Ano: 2020

País de origem: Polônia/Suécia

    Em seu segundo longa-metragem, o diretor polonês Magnus von Horn apresenta a história de Sylwia Zajac, uma influenciadora digital voltada para a área fitness. Acompanhamos sua vida por três dias, enquanto ela realiza eventos, dá entrevista, produz conteúdo para suas mídias digitais e lida com seus problemas pessoais e familiares. O cineasta concebe um trabalho muito seguro na direção e conta com a belíssima performance da atriz Magdalena Kolesnik, que consegue construir a protagonista em todas as suas nuances e aflições.

    A câmera está sempre a serviço da narrativa, movimentando-se em torno de Sylwia durante toda a extensão do filme, mostrando-a como o centro das atenções que ela busca ser. Há também uma visual interessante feita entre a primeira e a última cena, onde a personagem ensina exercícios físicos e a câmera acompanha toda a turbulência desses momentos, como se estivesse fazendo os movimentos junto com a protagonista.

    Talvez exista uma perda de foco do roteiro em certas passagens, mas tudo é posto na tela para que Sylwia e sua complexa personalidade sejam expostas diante dos olhos do espectador, trazendo ainda uma crescente tensão que chega ao seu ápice durante o terceiro ato, no qual todo o estresse mental dela, que acompanhamos durante a projeção, explode em um monólogo que demonstra a competência da atriz, embora a exploração da vida de celebridades digitais fique prejudicada pelo clichê: "vocês são mais importantes para mim do que eu para vocês".



O TREMOR

Direção: Balaji Vembu Chelli

Ano: 2020

País de origem: Índia

    O Tremor propõe-se ser uma experiência de tensão, mas se torna um dos filmes mais monótonos que vi recentemente, sendo incapaz de manter o engajamento do espectador. Utilizando longos planos para que os cortes não aliviem a (tentativa de) tensão, o longa esbarra em diversos fatores, como a utilização de uma trilha que mais distrai do que imerge o público na narrativa, os diversos e repetitivos trechos do protagonista dirigindo seu carro enquanto nada acontece e, principalmente, a falta de história. Mesmo possuindo apenas 71 minutos de projeção, só possui roteiro para metade de sua duração, estendendo-se mais do que o necessário e constituindo um trabalho esquecível.


Texto escrito por Matheus C. Fontes como parte da cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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