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Mostrando postagens de setembro, 2021

7 Prisioneiros

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7 PRISIONEIROS Direção: Alexandre Moratto Ano: 2021 País de origem: Brasil     Os nomes de Fernando Meirelles e Ramin Bahrani como produtores executivos já são bons indícios de que tipo de filme é 7 Prisioneiros . Depois de estrear no Festival de Veneza, o projeto chegou a Toronto, onde o diretor Alexandre Moratto já havia apresentado seu longa-metragem de estreia Sócrates há poucos anos. Desta vez, ele volta a se reunir com sua estrela Christian Malheiros, o qual interpreta um jovem que sai de uma pequena cidade no interior para conseguir dinheiro em São Paulo e oferecer melhores condições de vida à família, mas acaba caindo num esquema de trabalho escravo contemporâneo.     A sequência inicial, com uma pequena duração, já é capaz de oferecer todas as informações que precisamos saber sobre o protagonista Mateus, construindo um senso de afeto por ele através da relação com sua família, que aparece apenas no início. Isto apenas reforça a capacidade do filme em introduzi-los de forma ef

Ahed's Knee

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AHED'S KNEE (Ha'berech) Direção: Nadav Lapid Ano: 2021 Países de origem: Israel / França / Alemanha     Embora eu não seja o maior admirador de Sinônimos (2019), longa anterior do israelense Nadav Lapid e vencedor do Urso de Ouro, é quase impossível negar a potência de sua visceralidade, mergulhada numa variação formal do cinema de fluxo e carregada pelas frustrações do diretor. Desde A Professora do Jardim de Infância (2014), ele parece ter se encontrado em narrativas cada vez mais pessoais, passando pela infância, juventude e, finalmente, a vida adulta. O que aparenta ser a conclusão de uma trilogia, Ahed's Knee é o maior feito de Lapid até hoje, seja pelo aperfeiçoamento das tendências formais que havia adotado anteriormente ou pela honestidade com a qual trata seus próprios traumas.     Se em seu último longa, o protagonista despiu-se completamente ao deixar Israel para tentar negar suas origens e tornar-se francês, aqui o personagem autobiográfico do autor já é um h

Arthur Rambo

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ARTHUR RAMBO Direção: Laurent Cantet Ano: 2021 País de origem: França     Por quase toda a carreira, o francês Laurent Cantet apresentou sua visão sobre as instituições de seu país. Ganhador da Palma de Ouro em 2008, Entre os Muros da Escola desconstruiu qualquer visão estereotipada do sistema de educação, alcançando um incrível nível de realismo através da utilização de atores não profissionais, ao mesmo tempo que carregava um afeto muito sincero por cada personagem e pintava um mural da diversidade racial e cultural na França. É dessa obra-prima que surge o ator principal do novo trabalho do diretor, cuja estreia mundial aconteceu no Festival de Toronto.     Karim (Rabah Nait Oufella) é a nova sensação da literatura francesa, tendo alcançado grande visibilidade com o livro no qual descreve a experiência de sua família de imigrantes argelinos, especialmente sua mãe, vivendo num lugar que não os aceita e sempre os colocou à margem. No entanto, uma antiga conta criada pelo protagonista

France

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FRANCE Direção: Bruno Dumont Ano: 2021 Países de origem: França / Alemanha / Itália / Bélgica     Se Zygmunt Bauman falava sobre sociedade líquida, é possível observamos hoje um processo de "virtualização" das nossa relações, cada vez mais dissolvidas em um código binário de 0 e 1 que parece muito mais real do que espaços físicos para tantos. O cinema, como um retrato de seu tempo, está cada vez mais buscando explorar essas ideias em suas narrativas, como os recentes Annette e Zeros and Ones . É interessante perceber como não são jovens diretores os que mais se destacam nesta exploração do contemporâneo, mas nomes já consagrados há décadas, cujo peso do tempo é essencial para sentir o verdadeiro absurdo do século XXI.     O francês Bruno Dumont junta-se a Carax e Ferrara como um dos autores que melhor explorou a temática em 2021. Desde a fotografia extremamente digital até os efeitos visuais propositalmente nada realistas, France nunca esconde sua encenação por trás de uma

Reflection

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REFLECTION Direção: Valentyn Vasyanovych Ano: 2021 País de origem: Ucrânia     Depois de ser premiado em 2019 por Atlantis , o diretor ucraniano Valentyn Vasyanovych retorna ao Festival de Veneza, desta vez na Competição Oficial. Reflection segue o cirurgião Serhiy (Roman Lutskyi) numa jornada pelas profundezas da crueldade e do vazio de nossas existências. Não é um fácil de ser assistido, causando reações muito parecidas com aquelas provocadas pelo trabalho de Gaspar Noé, embora formalmente sempre mantenha distância da ação. Ao mesmo tempo que fala sobre barreiras, nos faz testemunhar o lado mais sombrio do ser humano de forma passiva, o que causa um desconforto ainda maior.     Durante o primeiro ato, o diretor constrói uma mise-en-scène que remete diretamente a ideia construída por Hitchcock, em Janela Indiscreta , de que a tela do cinema é uma proteção do espectador em relação à diegese fílmica. Neste caso, as várias telas que permitem a estabilização de um plano dentro outro par

Piedra Noche (2021)

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PIEDRA NOCHE Direção: Iván Fund Ano: 2021 Países de origem: Argentina / Chile / Espanha     O cinema independente recente feito em nossos vizinhos sul-americanos possui muitas com a produção audiovisual brasileira, como a busca por realismo, ao mesmo tempo que tenta lidar com convenções de gênero. Dessa forma, encontra no fantástico um meio de abordar e superar traumas pessoais e sociais. Juliana Rojas e Marco Dutra fizeram justamente isso com o terror em seus últimos trabalhos, com grande destaque para Trabalhar Cansa (2011). E é esta a proposta do diretor Iván Fund em seu novo longa-metragem Piedra Noche , o qual integra mostra paralela do Festival de Veneza 2021.     Após seu filho desaparecer à noite na praia, Greta (Mara Bestelli) e Bruno (Marcelo Subiotto) precisam conviver com o luto e decidem vender a casa de praia. Enquanto ela tenta colocar novamente a vida nos trilhos e superar a dor da perda, o olhar do marido está sempre perdido no meio do mar, como se quisesse manter a e

Les Promesses (2021)

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LES PROMESSES Direção: Thomas Kruithof Ano: 2021 País de origem: França     Abrindo a sessão Orizzonti no primeiro dia do Festival de Veneza, Les Promesses é um thriller político que confronta ideais com ambição, jogando luz sobre a corrupção das instituições governamentais, ao mesmo tempo que ainda tenta encontrar a esperança no fim do túnel. Acompanhamos Clémence (Isabelle Huppert), prefeita de uma pequena cidade nos arredores de Paris, durante os últimos meses de seu segundo mandato. Mesmo que ela sempre tenha dito que não pretendia viver como uma parasita por anos no poder, a proposta de assumir um cargo de ministra mexe com suas convicções e a leva numa jornada cheia de questionamentos sobre suas convicções.     O mecanismo do roteiro (escrito por Jean-Baptiste Delafon e pelo diretor Thomas Kuithof) que move inicialmente a trama é Les Bernardins, um complexo residencial que abriga uma enorme quantidade de imigrantes. Quando a precariedade do edifício chega ao limite, os moradores