Another Round (2020)

 



ANOTHER ROUND

Direção: Thomas Vinterberg

Ano: 2020

País de origem: Dinamarca / Suécia / Países Baixos

    Texto escrito por Matheus Costa

    Particularmente, eu não tive as melhores experiências da minha vida quando ingeri bebida alcóolica pelas primeiras vezes. Claro que qualquer relato pessoal que eu faça vai ser em uma escala muito menor comparado com o de uma pessoa alcóolatra, mas minhas vivências já são capazes de mostrar uma parcela ínfima do estrago causado pelo abuso de tais substâncias. Antes que vocês pensem que eu fiz loucuras bêbado e comecem a me julgar, preciso deixar claro que são momentos que ficaram em um passado no qual eu era um adolescente louco sem qualquer tipo de responsabilidade. Enfim, bora parar de fofocar sobre minha vida e começar a crítica.

    Selecionado para o Festival de Cannes 2020, Another Round faz a sua estreia no Reino Unido através da edição anual do Festival de Cinema de Londres, onde já chega com uma grande expectativa de figurar entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Sob direção do dinamarquês Thomas Vinterberg, o filme mergulha na realidade de quatro professores de ensino médio cujas vidas pessoas e profissionais estão indo de mal a pior. Martin (Mads Mikkelsen) é um professor de história que não tem mais nenhum ânimo para ensinar, provocando queixas por parte dos alunos e de seus pais, ao mesmo tempo que não consegue manter uma relação de mínima proximidade afetiva com sua família. Da mesma forma, seus três amigos docentes (Thomas Bo Larsen, Magnus Millang e Lars Ranthe) estão progressivamente encontrando o fundo do poço de suas vidas, mesmo que mantenham a aparente normalidade com a qual o ser humano tenta se blindar. Neste contexto, os quatro decidem testar uma teoria sobre como o ser humano nasceu com um déficit de 0,05% no nível de álcool no sangue. 

    Não, você não leu errado. Os personagens realmente tentaram isso em sã consciência. Ou, pelo menos, é o que o roteiro tenta fazer com que o espectador ache verossímil. Eles até mesmo começam a escrever um artigo científico sobre a experiência. Uma premissa absurda que só se torna aceitável graças a direção sóbria do Vinterberg e as ótimas atuações centrais, principalmente de Mikkelsen. Este estabelece-se como o verdadeiro destaque da obra, optando por uma interpretação realista que consegue variar bem entre os momentos de sutileza e aqueles nos quais precisa explodir com um toque megalomaníaco, sem nunca perder a sensibilidade com seu personagem, que está passando por momentos muito difíceis.

    O longa não é apenas um estudo do protagonista, mas dos quatro, em conjunto e separadamente. Esta abordagem tinha tudo para arruinar o filme, o que não acontece. A montagem consegue transitar de forma orgânica entre os diferentes núcleos e, assim, dar um tempo de tela que, embora não seja igualitário, é capaz de enfocar suficientemente cada um deles. A direção de fotografia também é capaz de contribuir significativamente à narrativa, já que toma uma decisão simples, mas bastante eficaz: a câmera na mão é utilizada em grande parte do filme para exemplificar a desestabilização provocada pelo consumo de álcool.

    Infelizmente, Vinterberg não foi capaz de conceber um trabalho tão coeso quanto sua antiga parceira com Mikkelsen, A Caça (2012). Além de uma premissa que custa a parecer verossímil, a narrativa assume uma natureza muito moralista e previsível (qualquer espectador atento sabe que aquela experiência não vai funcionar e possivelmente vai acabar em tragédia). Mesmo assim, Another Round tem um carinho admirável por seus personagens principais e ainda conta com atuações dignas de prêmios. Além disso, o diretor e Mikkelsen guardam uma cena final épica, capaz de reforçar a qualidade do trabalho de ambos.

FESTIVAL DE CINEMA DE LONDRES 2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capitu e o Capítulo (2021)

Mangrove (2020)

Oscar 2022: Apostas para as Nomeações