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Mostrando postagens de 2020

Red, White and Blue (2020)

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  RED, WHITE AND BLUE Direção: Steve McQueen Ano: 2020 País de origem: Reino Unido     Texto escrito por Matheus Costa     Após os ótimos Mangrove e Lovers Rock , o diretor britânico Steve McQueen continua sua série antológica Small Axe , desbravando a vida e a cultura da comunidade negra que residia na Inglaterra durante a segunda metade do século XX, contexto no qual ele mesmo cresceu. Uma constatação interessante, pois explica todo o carinho demonstrado por aquelas pessoas e por aqueles lugares.       Este novo capítulo possui suas peculiaridades. A primeira parte da série era a retratação de um evento real e focava parte de sua narrativa em um drama de tribunal, posicionando os holofotes sobre a violência policial. Já na segunda, uma das melhores obras de 2020, a cultura é o enfoque, nos teletransportando para a magia de uma festa noturna nos subúrbios de Londres, onde a música é capaz de embalar os mais diferentes e poderosos sentimentos. Aqui há uma semelhança considerável com Ma

#10 Mostra de São Paulo 2020

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  A PASTORA E AS SETE CANÇÕES Direção: Pushpendra Singh Ano: 2020 País de origem: Índia     Após ser exibido no Festival de Berlim deste ano atípico, A Pastora e as Sete Canções  estreou no Brasil através da Mostra Internacional de São Paulo, proporcionando aos brasileiros um mergulho em uma cultura tão diferente, mas que apresenta problemas sociais tão semelhantes. O diretor Pushpendra Singh deu vida ao filme a partir de um poema do século XIV, que possui um caráter místico. Este é incorporado ao tom da obra, que varia entre o naturalismo e a fantasia, mas sem nunca perder o foco de seus personagens e das denúncias sociais que estão sendo feitas.     Laila (Navjot Randhawa) é uma jovem mulher cuja família sente a constante necessidade de pressioná-la para que se case logo, seguindo as tradições de seu povo. Ela, no entanto, tenta insistentemente rejeitar seus pretendentes, sendo Tanvir (Sadakkit Bijran) o principal entre eles. Em um de seus primeiros momentos, o longa faz questão de m

#09 Mostra de São Paulo 2020

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  FILHO DE BOI Direção: Haroldo Borges Ano: 2019 País de origem: Brasil     A influência do Neo-Realismo fica evidente logo no início de Filho de Boi , longa-metragem brasileiro que já rodou vários festivais internacionais e chega ao nosso país através da Mostra de São Paulo. A utilização de não-atores, os flertes com o documentário, a câmera na mão, a inquietude da narrativa, tudo é posto na tela com objetivo de fazer o público sentir aquela realidade, aquele sol, aquela terra e, principalmente, o turbilhão de sentimentos que perpassam o protagonista João durante este belo coming-of-age.     Em uma das primeiras cenas, vemos João tentando resgatar um boi que ficou preso no meio do arame farpado. Uma imagem que traduz bem sua própria vida na pequena cidade de Tamboril, no interior da Bahia, onde todos o chamam pela expressão que nomeia o filme. Não fica claro inicialmente o significado daquilo, o que o roteiro decide revelar apenas aos poucos, demonstrando a sutileza do texto. O princi

#08 Mostra de São Paulo 2020

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  MALMKROG Direção: Cristi Puiu Ano: 2020 País de origem: Romênia/Sérvia/Suíça/Suécia/Bósnia e Herzegovina/Macedônia do Norte     O cinema romeno começou a ganhar destaque quando o Leste Europeu se abriu para o livre mercado e investimentos começaram a ser feitos no setor, alcançando seu ápice com a chamada "Nova Onda". Muitos historiadores consideram que esta teve início com o filme O Caminho das Boas Intenções (2001) , dirigido por Cristi Puiu, que veio a ganhar os holofotes do mundo com o seu subsequente trabalho, A Morte do Sr. Lazarescu (2005) . Outros cineastas romenos conseguiram destaque de lá para cá, como Cristian Mungiu e Corneliu Porumboiu, mas Puiu já garantiu seu lugar de destaque.     O novo trabalho do diretor é Malmkrog , que teve sua estreia mundial no Festival de Berlim, no início do ano, e chega ao Brasil através da Mostra de São Paulo. É um projeto de 3 horas e 20 minutos que vem dividindo opiniões, já que constitui uma experiência pouco acessível, seja p

#07 Mostra de São Paulo 2020

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DIAS Direção: Tsai Ming-liang Ano: 2020 País de origem: Coreia do Sul     Dias é uma experiência audiovisual sobre a qual eu pouco sabia quando dei o play. O único fato do qual eu muito ouvi falar era a lentidão da narrativa, característica constante na filmografia de Tsai Ming-liang. Minha primeira surpresa veio logo nos créditos iniciais: o filme seria exibido propositalmente sem legenda. Como eu entenderia o coreano que estava para sair das bocas dos personagens?     O primeiro plano do filme já expõe o tom dos 127 minutos de duração. O ator Lee Kang-sheng está sentado atrás da janela de vidro de sua casa enquanto está chovendo do lado de fora. A cena, sem qualquer corte, parece durar uma eternidade e Kang permanece imóvel e mudo. Esta é a essência de  Dias : planos muito longos (li que eram apenas 46 no total) nos quais parece que nada acontece. Na verdade, o diretor confere uma melancolia devastadora ao mostrar o cotidiano dos protagonistas.     Preciso admitir que cheguei a chama

#06 Mostra de São Paulo 2020

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  O NARIZ OU A CONSPIRAÇÃO DOS DISSIDENTES Direção: Andrey Khrzhanovsky Ano: 2020 País de origem: Rússia     Abrindo com uma cena dentro de um avião, O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes  já deixa o espectador confuso, já que o filme é divulgado como uma animação dirigida por Andrey Khrzhanovsky. Aos poucos, as coisas vão ficando cada vez mais confusas, deixando o público totalmente desorientado. Quem não é grande conhecedor da história da União Soviética fica ainda mais perdido, pois o longa está repleto de referências ao país e pessoas importantes da época, estabelecendo-se como, mais a frente, como uma grande sátira ao governo de Josef Stalin (1878-1953).     O filme parte de uma adaptação do conto satírico O Nariz , de Nicolau Gogol, mas expande-se à medida que utiliza a história da obra-base para falar da administração soviética e diversas facetas de sua sociedade. Da mesma forma que o conto já havia sido adaptado para uma ópera, composta por Dmitri Shostakovich, esta também é

#05 Mostra de São Paulo 2020

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  DEZESSEIS PRIMAVERAS Direção: Suzanne Lindon Ano: 2020 País de origem: França     Anunciado como parte da seleção oficial do Festival de Cannes deste ano, Dezesseis Primaveras  é o primeiro projeto de Suzanne Lindon para o cinema. O filme apresenta características autobiográficas da diretora, que também escreveu e protagonizou a longa. Infelizmente, não é surpresa para quem assiste que o roteiro foi escrito por ela quando tinha apenas 15 anos, demonstrando toda a sua imaturidade enquanto pessoa e realizadora. É claro que pessoas jovens são capazes de produzirem bons trabalhos em qualquer área, mas a idade é responsável por trazer o peso dos anos para suas realizações, o que não acontece aqui.     Suzanne (sim, ela utilizou o próprio nome na personagem) é uma garota de 16 anos que não consegue estabelecer conexões com pessoas da sua idade, o que fica bem evidente na primeira cena, na qual ela é enquadrada em uma mesa, junto com seus colegas de escola, enquanto ela está com seus pensam

#04 Mostra de São Paulo 2020

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  GÊNERO, PAN Direção: Lav Diaz Ano: 2020 País de origem: Filipinas     Conhecido, entre outras coisas, por seus filmes de longa duração, Lav Diaz volta com seu novo trabalho, Gênero, Pan . Com uma minutagem menor do que o usual, o diretor relativiza a condição do ser humano como animal racional, contestando as teorias que nos diferem dos demais animais. Premiado na Sessão Horizonte do Festival de Veneza mês passado, o projeto apresenta um voice-over em certo momento que serve como chave para o espectador entender a temática abordada, embora esta poderia ter sido compreendida sem a utilização de um recurso tão expositivo e sem sutileza.     Três trabalhadores de mineração regressam para a ilha onde suas famílias moram após uma temporada de trabalho que durou alguns meses. No primeiro ato, entendemos um pouco da relação entre eles e com o seu trabalho, mostrando como o sistema sempre está contra os mais e pobres. O protagonista Andres precisa economizar dinheiro para pagar o tratamento

#03 Mostra de São Paulo 2020

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  APENAS MORTAIS Direção: Liu Ze Ano: 2020 País de origem: China     O envelhecimento sempre foi um tema muito complicado para mim, por causa do convivência com minha avó e minhas tias-avós, o que me coloca em uma posição complicada quando assisto filmes sobre o tema. Apenas Mortais  é o segundo filme chinês que vejo esse ano e que também aborda a a passagem do tempo, embora de maneira bem diferente (o outro foi Slow Singing , que tem crítica aqui no Cine Odisseia).     Xian Tian acaba seu relacionamento com um homem casado e precisa voltar a sua cidade natal para ajudar a mãe a cuidar de seu pai com Alzheimer, que vem piorando progressivamente. O controle narrativo que o diretor Liu Ze apresenta é fascinante, principalmente considerando que é o seu trabalho de estreia. Em vez de construir uma narrativa apenas em torno do Alzheimer e acabar caindo em um (melo)drama comum, ele opta por explorar o tempo e sua ação na vida daquela família.     Nesse sentido, o uso de planos-sequência é mu

#02 Mostra de São Paulo 2020

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    LUA VERMELHA Direção: Lois Patiño Ano: 2020 País de origem: Espanha     O diretor Luis Patiño imerge o espectador na realidade de uma pequena vila da Galícia, localizada à beira mar, cujos habitantes choram o desaparecimento de um pescador local. Em um primeiro momento, o espectador percebe a escolha da direção por planos estáticos, onde vemos indivíduos mudos diante da paisagem ao seu redor. Suas vozes são ouvidas apenas em voice-over, como se fossem seus pensamentos. Palavras que não conseguem ser reproduzidas por suas cordas vocais e escapar por suas bocas. Um monstro está sempre à espreita, podendo aparecer a qualquer momento e levar mais um morador da vila.      O monstro seria uma representação da própria morte? A narrativa alegórica deixa várias questões abertas a interpretação, mas a resposta seria sim para mim. O luto que se abate sobre quem fica silencia suas expressões, suas forças, sua determinação para se mover e se comunicar. Os lençóis brancos, que remetem ao ótimo S

Lovers Rock (2020)

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  LOVERS ROCK Direção: Steve McQueen Ano: 2020 País de origem: Reino Unido     Texto escrito por Matheus Costa     Eu não sou a pessoa mais apaixonada por festas. Gosto de ficar em casa, no meu quarto, assistindo um filme ou uma série. Esta é a minha diversão, mas com as companhias certas, sair para comer/beber algo ou dançar pode se tornar uma experiência incrível e às vezes memorável, tornando-se uma história para ser contada diversas vezes, por diferentes motivos. Em 2020, um ano em que o calor humano faz tanta falta a todos, uma festa é o desejo de grande parcela da população mundial (me incluo aqui) e uma pista de dança nunca fez tanta falta.  Nesse contexto tão indesejável, Lovers Rock  desperta sentimentos tão complexos que é difícil escrever objetivamente sobre ele.     Assim como Mangrove , que abriu o Festival de Londres, este também integra o projeto Small Axe comandado por Steve McQueen que busca retratar a vida da comunidade negra na Londres do século XX. Fugindo dos padr