#05 Mostra de São Paulo 2020

 



DEZESSEIS PRIMAVERAS

Direção: Suzanne Lindon

Ano: 2020

País de origem: França

    Anunciado como parte da seleção oficial do Festival de Cannes deste ano, Dezesseis Primaveras é o primeiro projeto de Suzanne Lindon para o cinema. O filme apresenta características autobiográficas da diretora, que também escreveu e protagonizou a longa. Infelizmente, não é surpresa para quem assiste que o roteiro foi escrito por ela quando tinha apenas 15 anos, demonstrando toda a sua imaturidade enquanto pessoa e realizadora. É claro que pessoas jovens são capazes de produzirem bons trabalhos em qualquer área, mas a idade é responsável por trazer o peso dos anos para suas realizações, o que não acontece aqui.

    Suzanne (sim, ela utilizou o próprio nome na personagem) é uma garota de 16 anos que não consegue estabelecer conexões com pessoas da sua idade, o que fica bem evidente na primeira cena, na qual ela é enquadrada em uma mesa, junto com seus colegas de escola, enquanto ela está com seus pensamentos muito longe daquele lugar e daquelas pessoas. A mixagem de som abafa parte dos diálogos e a fotografia faz questão de mostrar pouco das faces dos outros indivíduos na mesa, ressaltando o isolamento da garota.

    Ela começa, então, a observar um homem mais velho durante as tardes e vai descobrindo, aos poucos, detalhes de sua vida. Fica atenta à motocicleta vermelha que utiliza como meio de transporte, descobre que ele é ator no teatro da praça que fica perto de sua casa e o observa enquanto come em um restaurante. Eles começam a conversar e se tornam próximos, embora nunca cheguem a cruzar uma fronteira que os separa.

    O problema é que o roteiro não consegue conferir profundidade à protagonista. Poderia se argumentar que a verossimilhança seria garantida pelo fato de ser uma personagem adolescente escrita enquanto a realizadora estava nessa faixa etária. Mas não é isso que acontece. Adolescentes não conseguem enxergar a vida como ela é, nem a sua própria. Suzanne tem atitudes que apenas demonstram a falta de maturidade do roteiro, como a passagem onde ela vê o homem amado comendo pão com geleia de morango e, ao chegar em casa, pede a mesma coisa para a mãe.

    Os momentos que distanciam a narrativa da realidade são os que fazem a direção brilhar, mostrando o potencial de Suzanne que foi prejudicado pelo texto. As cenas de dança do casal protagonista são sensacionais, demonstrando como seu relacionamento é capaz de extraí-los do mundo no qual as outras pessoas habitam. O encaminhamento final do longa representa a melhor parte do trabalho, pois é quando a protagonista finalmente encontra e transparece emoções que ressoam no público. A cada volta que eles dão enquanto dançam em um bar, a realidade torna-se mais clara para Suzanne. É uma cena dolorosa, pois toda a fantasia daquela relação cai e revela a verdade para ela.





O CHARLATÃO

Direção: Agnieszka Holland

Ano: 2020

País de origem: República Tcheca/Irlanda/Polônia/Eslováquia

    Após sua estreia no Festival de Berlim, O Charlatão chega ao Brasil através da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre quase totalmente online esse ano por causa da pandemia. Recentemente escolhido como representante da República Tcheca para tentar uma vaga na categoria de Filme Internacional na próxima edição do Oscar, o filme conta a história do herborista Jan Mikolasek, que dedicou a vida aos cuidados de pessoas doentes, ao mesmo tempo que enfrentava uma série de problemas nas esferas privada e pública.

    A tentativa de abordar tantas facetas da vida de um indivídua em um cinebiografia de duas horas nunca é uma tarefa fácil, tendendo constantemente ao fracasso. Os flashbacks tentam ampliar a visão sobre a vida do personagem, mas acabam prejudicando o desenvolvimento do mesmo. Quebram o ritmo da narrativa e impedem que o filme trabalhe as nuances do que está sendo abordado na linha temporal principal. Se relacionamento secreto não tem o peso que deveria e apenas transparece a frieza do projeto, que não é capaz de contar essa história com paixão e prefere apelar para o melodrama. Este funciona em determinados momentos, mas retira a força de outros. Mesmo assim, O Charlatão ainda é o estudo de um personagem complexo e interessante, embora a performance de Ivan Trojan apenas constate a dificuldade em conferir emoções palpáveis ao protagonista.



Texto escrito por Matheus C. Fontes como parte da cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo   

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