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Mostrando postagens de agosto, 2021

Fantasma Neon (2021)

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  FANTASMA NEON Direção: Leonardo Martinelli Ano: 2021 País de origem: Brasil     Com o encerramento do Festival de Locarno ontem, os vencedores foram anunciados e o brasileiro Fantasma Neon , de Leonardo Martinelli, foi o grande vencedor do Leopardo de Ouro entre os curtas-metragens internacionais da mostra Pardi di domani. O filme abre com depoimentos de entregadores de delivery sobre os abusos sofridos pelos trabalhadores da área, que acabaram sendo ainda mais prejudicados na pandemia. Exatamente no momento em que mais se tornaram necessários, também passaram a receber cada vez menos valor por seus serviços prestados. Quando transformaram-se em parte integrante da paisagem urbana, ficaram invisíveis aos olhos da sociedade.     O diretor opta por uma abordagem lúdica, assim como em seus trabalhos anteriores, para abordar uma temática delicada. Todo o curta constrói-se a partir desses paradoxos, confrontando a doçura do gênero musical com a realidade amarga daquelas pessoas. A própria

A Máquina Infernal (2021)

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  A MÁQUINA INFERNAL   Direção: Francis Vogner dos Reis   Ano: 2021   País de origem: Brasil     À parte daquilo que havia sido feito por José Mojica Marins, o Zé do Caixão, o Novíssimo Cinema Brasileiro tem explorado com frequência as possibilidades do terror dentro de suas discussões político-sociais. Juliana Rojas e Marco Dutra ganharam grande visibilidade no gênero durante a última década, com grande destaque para Trabalhar Cansa (2011), cujas temática e abordagem parecem ter tido grande influência sobre a estreia do mineiro Francis Vogner dos Reis, que apresentou o curta-metragem A Máquina Infernal na edição deste ano do Festival de Locarno.     Integrante da mostra Pardi di domani, o filme é descrito como o "apocalipse da classe operária". O diretor volta o olhar do espectador para o ABC paulista, a maior área industrial do Brasil, para trabalhar a ideia de uma condição de trabalho que definiu a era moderna, mas que permanece presente nas constantes opressões impostas

Zeros and Ones (2021)

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  ZEROS AND ONES   Direção: Abel Ferrara   Ano: 2021   País de origem: Alemanha / Reino Unido / EUA     No início da projeção de Zeros and Ones no Festival de Locarno, aparece um vídeo caseiro de Ethan Hawke, gravado antes do início das filmagens, no qual o ator fala sobre o quanto está empolgado para trabalhar com Abel Ferrara, cujos filmes recentes com Willem Dafoe tanto o inspiraram. Parece ser mais um dos vídeos de introdução que ficaram tão comuns nessa época de festivais online. Porém, ao final dos créditos, Hawke retorna, já depois de assistir ao corte que lhe foi enviado. Dessa vez, ele admite que, quando leu o roteiro, não fazia ideia do que estava acontecendo, uma sensação que a maior parte da público irá compartilhar inicialmente. Estas passagens não foram adicionadas apenas como uma saudação aos espectadores, são parte integrante do longa e podem dizer muito sobre a loucura que ocorre no meio delas.     Embora este novo trabalho de Ferrara possa aparentar ser bem menos pes

La Place d'une autre (2021)

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LA PLACE D'UNE AUTRE Direção: Aurélia Georges Ano: 2021 País de origem: França     Assistir a La Place d'une autre é como ler um clássico da literatura europeia, um mergulho na aristocracia do século XX atormentada pelos horrores da guerra. Uma história de ascensão social, mas não da maneira mais convencional: Nélie (Lyna Khoudri) cresceu filha de mãe solteira, sem qualquer grande oportunidade, e teve que trabalhar como prostituta nas ruas, sendo constantemente humilhada e jogada à podridão de uma Europa desolada. Quando junta-se à Cruz Vermelha, acaba encontrando uma jovem suíça (Maud Wyler) que perdeu a família e está indo encontrar uma amiga de seu pai (papel da estonteante Sabine Azéma), a qual poderia apresentá-la à sociedade francesa e oferecer um futuro abastado.     A diretora Aurélia Georges abraça tendências assumidamente clássicas, em especial no roteiro coescrito por Maud Ameline, algo que parece bem apropriado para a história que estão contando, sem recorrer a rev

Medea (2021)

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MEDEA   Direção: Alexander Zeldovich   Ano: 2021   País de origem: Rússia     Embora muitos já tenham se aventurado por textos seculares para produzir obras audiovisuais, fica cada vez mais evidente que aquilo que realmente importa não é o enredo, mas como ele é contado. Sendo assim, é contraproducente dizer que um determinado filme sofre pelo desgaste de uma história já contada várias vezes, um argumento que muitos poderiam utilizar contra o novo projeto do russo Alexander Zeldovich, o qual recorre ao mito de Medeia. A personagem da Grécia Antiga foi figura central de inúmeras adaptações no teatro, no cinema e na televisão, mas o que foi feito aqui pelo diretor traz um frescor surpreendente, carregando a essência da Arte como um retrato de seu tempo.     A fotografia de Aleksandr Ilkhovskiy capta as belas imagens de abertura do filme, quase um paraíso idílico, enquanto a personagem-título (Tinatin Dalakishvili) narra sua vida. É exatamente a força da história oral que perturba a perf

Mad God (2021)

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    MAD GOD   Direção: Phil Tippett   Ano: 2021   País de origem: EUA     As possibilidades oferecidas pela linguagem das animações foram exploradas exaustivamente durante a história do cinema e, mesmo assim, continuam a deslumbrar artistas e público quando colocadas nas mãos de quem sabe o que está fazendo. Este, com certeza, é o caso do especialista em efeitos visuais Phil Tippett, cujo trabalho já foi reconhecido com dois Oscars ( Jurassic Park e O Retorno de Jedi ). Durante três décadas, ele dedicou-se ao seu projeto de vida, Mad God , enfrentando diversos problemas de financiamento e produção. Embora muitos acreditassem que o filme nunca conseguiria ser laçado, o Festival de Locarno finalmente o apresenta ao mundo.     Se a produção enfim conseguiu ver a luz do dia, o mesmo não pode ser dito dos bizarros personagens que habitam esse mundo pós-apocalíptico. Já na abertura, as referências bíblicas ficam evidentes, seja através da imagem que remete à Torre de Babel ou do texto que d

Nine Days (2020)

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Sony Pictures Classics   NINE DAYS Direção: Edson Oda Ano: 2020 País de origem: EUA     A incógnita sobre o que existe antes e depois da vida (ou se não existe) sempre foi motivo de discussão para a espécie humana, a partir do momento em que esta desenvolveu razão e a consequente capacidade de questionar. Os cristãos acreditam que, após a morte, somos destinados ao céu ou ao inferno, dependendo de nossas ações na Terra. Os budistas acreditam na reencarnação, seja em humanos ou em animais, a depender de suas condutas e do carma. Já os hindus também creem em reencarnação, com a diferença da existência do período entre uma vida e a outra, quando conhecemos nosso destino e, dessa forma, a missão que devemos cumprir. Outros não acreditam que exista algo além de células que se decompõem. Uma coisa é certa: ninguém é capaz de saber exatamente a resposta para tais perguntas, o que levou artistas a explorar, ao longo dos séculos, as diversas possibilidades abertas pelos maiores questionamentos