Wu Hai (2020)

 




WU HAI

Direção: Zhou Ziyang

Ano: 2020

País de origem: China

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    Eu já escrevi outras vezes que o Cinema tem a propriedade de transformar histórias tão particulares em contos universais, atingindo (de diferentes formas) espectadores nos quatro cantos do mundo. No entanto, é importante perceber como pessoas inseridas em certas culturas e realidades percebem e interpretam filmes de maneiras muito particulares. Bacurau (2019) é um exemplo recente, pois tenho certeza que, embora cidadãos de outros países tenham notado as críticas ao colonialismo, eles não conseguem sentir a dimensão do filme, com todos os seus simbolismos e referências, da mesma maneira que um brasileiro.

    Aqui, sinto que há um outro exemplo dessa situação. O chinês Zhou Ziyang realiza seu segundo trabalho em longas-metragens com Wu Hai, que teve sua estreia mundial nesta última semana, durante a edição anual do Festival de San Sebastián. Um espectador de fora da China (como eu) irá compreender a discussão feita em torno do poder destrutivo que o dinheiro exerce sobre os indivíduos, mas é quase impossível perceber suas nuances do lado de fora daquela realidade e das convicções políticas existentes dentro da China.

    Somos apresentados a Yang Hua, um homem casado com Miao Wei que deve dinheiro a agiotas. Ele, então, vai procurar algumas pessoas que lhe devem dinheiro, incluindo um empresário que está prestes a inaugurar uma espécie de oásis no meio do deserto que circunda a cidade de Wuhai, onde moram os personagens do filme. Porém, as coisas começam a fugir do controle até que o caos toma de conta da vida do protagonista.

    Com uma temática já abordada diversas vezes nas mais diversas formas de Arte, o diretor tenta deslumbrar o público através de visuais de tirar o fôlego. A direção de fotografia oferece alguns dos planos mais lindos esteticamente que vi esse ano, com destaque para as cenas em um monumento no alto de uma montanha e para uma cena que envolve um incêndio. O problema é que toda esta beleza visual está a serviço de uma narrativa pobre que não consegue sustentar seus argumentos.

    Zhou Zying decide iniciar seu filme com um tom mais naturalista, utilizando longos planos para atestar o realismo daquela realidade e progredindo lentamente para cenas de total absurdo, talvez na tentativa de metaforizar o progressivo atordoamento mental do protagonista diante dos males do capitalismo. No entanto, não há uma construção decente dos personagens, principalmente de Yang Hua, que deveria ter sido melhor trabalhado para que o terceiro ato do projeto soasse mais crível para quem assiste. Em vez disso, os acontecimentos finais parecem totalmente absurdos, prejudicando qualquer imersão que tenha sido pretendida pelo diretor.

    Apesar de todos os seus problemas, Wu Hai ainda é uma experiência interessante de ser acompanhada e que pode assumir contornos bem particulares para a audiência chinesa. Está longe de ser uma história com uma crítica político-social original e bem trabalhada, mas é visualmente estonteante e uma discussão sobre o sistema econômico predominante no mundo que não deve sair nunca de pauta.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAN SEBASTIÁN 2020

    

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