O Diabo de Cada Dia (2020)


O DIABO DE CADA DIA

Direção: Antonio Campos

Ano: 2020

País de origem: Estados Unidos

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    Desde que o Cinema começou a contar histórias no início do século XX, muitos cineastas recorreram a livros para adaptá-los para a tela. A própria Bíblia serviu (e ainda serve) como base para diversas produções ao longo das décadas. Uma parte do público pode pensar que é muito mais simples realizar uma adaptação do que escrever um argumento original, mas a verdade é que cada situação possui suas dificuldades particulares. A linguagem da Literatura é completamente diferente do Cinema, o que torna essa transição da folha para a tela um desafio enorme. Às vezes, o resultado é um sucesso, outras (como neste caso), um trabalho cheio de problemas.

    O Diabo de Cada Dia, novo projeto do diretor norte-americano Antonio Campos, com produção de Jake Gyllenhaal, é a adaptação cinematográfica do livro de mesmo nome, do escritor Donald Ray Pollock - que também assina o roteiro ao lado de Campos. No interior dos Estados Unidos, em um lugar repleto de corrupção e violência, somos apresentados a diversos personagens que possuem suas próprias histórias, mas que eventualmente se encontram - por vezes, de forma não muito agradável. No centro de tudo, está Arvin Russell (Tom Holland), jovem atordoado pelos traumas do passado.

    O filme possui duas linhas temporais, enfocando a infância e o início da vida adulta de Arvin. O prólogo (a primeira linha temporal) representa meu primeiro problema com o filme, já que ocupa todo o longo primeiro ato e, quando salta no tempo, o espectador precisa reconectar-se com os personagens novamente, agora 8 anos mais velhos. Além disso, outra questão problemática é a narração super expositiva, insistindo em externar os sentimentos dos personagens e prolongando-se durante toda o filme. O narrador não consegue se calar nem em momentos que deveriam possuir uma alta tensão.

    Embora a película consiga apoiar-se no ótimo elenco (ponto alto do filme), é quase impossível manter uma relação espectador-personagem, inclusive com o próprio protagonista. Tom Holland está em um papel bem diferente daquele que o consagrou no gosto popular nos últimos anos, flutuando entre uma performance apenas operante e alguns momentos isolados em que consegue destacar-se ao demonstrar as frustrações de seu personagem durante a infância. Riley Keough e Jason Clarke estão muito bem como um casal cheio de problemas no relacionamento e que representam mais um lado obscuro da trama. Mas quem realmente merece destaque são Bill Skarsgard e Robert Pattinson. O enlouquecimento crescente do personagem de Skarsgard é muito bem representado pelo ator no primeiro ato (onde ele consegue roubar toda a atenção). Pattinson, mostrando mais uma vez a qualidade de seu trabalho pós-Crepúsculo, entrega mais uma belíssima atuação como um pastor sem o menor escrúpulo.

    Ao não conseguir construir a narrativa com foco em um bom desenvolvimento para seus personagens, o filme tenta se vender pela violência mostrada graficamente na tela. No entanto, diferente de alguns críticos que reclamaram da violência por ser mostrada de maneira tão crua, meu problema não é este, mas o fato dela não possuir consequências finais para o personagem central. Seu arco dramático (cheio de traumas) leva-o a tomar diversas atitudes, principalmente no terceiro ato, em uma tentativa de redenção. A violência, que deveria trazer consequências, traz apaziguamento interno.

    Campos entrega este projeto, cheio de subtramas, sem conseguir definir uma linha narrativa tênue e tentando focar exatamente nas interligações que ocorrem entre seus personagens. Por isso, estes não conseguem conectar-se com o espectador e originam um filme sem alma, que talvez consiga atrair o público pela sua violência e pelos nomes no elenco, mas que está fadado ao esquecimento dentro do enorme catálogo da Netflix depois de alguns meses.

DISPONÍVEL NA NETFLIX A PARTIR DE 16/09

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