Los Conductos (2020)

 



LOS CONDUCTOS

Direção: Camilo Restrepo

Ano: 2020

País de origem: França / Colômbia / Brasil

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    Grande parte do que eu sei de Cinema hoje veio dos escritos dos teóricos e historiadores de Cinema David Bordwell e Kristin Thompson. Para eles, todo elemento colocado em um filme para apreciação do público deve ter uma função para a construção narrativa proposta pelos realizadores. A fotografia, a montagem, a direção de arte, o design de som e qualquer outro fator deve servir a uma determinada proposta. É um conceito que pode ser refutado por outros pensadores, mas é o que determina meu ponto de vista na maior parte das vezes em que escrevo uma crítica. No entanto, este filme colocou minhas ideias à prova.

    Estreando na direção de longas-metragens depois de uma série de curtas na última década, o diretor e roteirista colombiano Camilo Restrepo chega ao Festival de San Sebastián deste ano com Los Conductos, que já passou por outros festivais, como em Berlim, onde teve sua estreia mundial na Mostra Encounters. É difícil escrever uma sinopse para um trabalho como este, que está muito mais preocupado com as imagens, os sons e o efeito que estes vão causar no público do que com uma história concisa e convencional.

    Baseado no poema Elegia a Desquite, de Antioqueño Gonzalo Arango (1931-1976), o filme possui uma forte carga política e ideológica, mas que ficará oculta aos espectadores menos atentos, já que se encontra sob o véu denso da estética quase hipnotizante apresentada. Eu poderia discorrer sobre várias interpretações a respeito da obra como fiz em outros textos, mas este não é o caso, pois trata-se de uma experiência muito mais forte em termos de sensações despertadas em quem assiste do que de compreensão do que está acontecendo, embora exista sim uma história estruturada.

    Luis Felipe Lozano interpreta o protagonista Pinky com muito vigor, destacando toda a confusão mental do personagem, que está quase sempre sob uso de drogas. Mas o grande destaque é a parte técnica que constrói uma imagética única de caráter quase alucinógeno, apoiando-se em metáforas e rimas visuais muito bem trabalhadas. A fotografia em com película em 16 mm é a grande responsável por conferir a atmosfera da narrativa e tornar a experiência quase hipnotizante em certos momentos. A direção de arte é muito inteligente ao utilizar certos elementos metafóricos no filme, como o tecido com estampa de fogo, que em certo momento (imagem no início do texto) é usada para exteriorizar os sentimentos e o estado mental do protagonista. 

    Mas o grande destaque é a edição, com grande influência da montagem soviética de Sergei Eisenstein. Ela fala muito mais ao espectador do que os próprios personagens, principalmente através da montagem não linear e dos diversos raccords. Com uma grande fascinação por formas e movimentos circulares, os cortes são muitas vezes orientados para um orifício de bala em um corpo, para o sol, para um ventilador e diversos "buracos". Estes são citados, em certo momento, pela narração em voice over, constituindo a metáfora mais presente nos 70 minutos de duração.

    Ao estar mais preocupado com a estética do que com uma história linear, o diretor acaba tirando força de um filme que tinha um potencial muito maior, sendo incapaz de profundar-se em qualquer discussão política que possa ter sido pretendida. Embora os aspectos técnicos não possuam uma boa narrativa à qual possam servir, eles têm um propósito em si mesmas ao ditarem o tom da obra e serem meu principal motivo de admiração pelo projeto.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAN SEBASTIÁN 2020



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