The Woman Who Ran (2020)

 


THE WOMAN WHO RAN

Direção: Hong Sang-soo

Ano: 2020

País de origem: Coreia do Sul

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    O cinema coreano é, sem dúvidas, um dos mais celebrados das últimas duas décadas ao redor do mundo, com o movimento chamado "nova onda sul-coreana", iniciado no fim dos anos 1990 e com seu auge marcado pelas vitórias de Parasita (2019) na última cerimônia do Oscar. Cineastas foram internacionalmente conhecidos e aclamados, produzindo filmes com temáticas e abordagens bastante distintas. Um deles é Hong Sang-soo, cujos trabalhos têm repercussões bem diferentes entre público e crítica.

    Apostando mais uma vez no minimalismo de seu texto, das atuações e das propostas de sua direção, o realizador sul-coreano apresenta, no Festival de San Sebastián (depois da passagem por outros festivais), seu mais novo projeto, intitulado The Woman Who Ran. Nele, a protagonista aproveita uma viagem do marido para visitar três de suas amigas, utilizando os famosos diálogos da filmografia do diretor. Este mantém sua proposta atrás das câmeras, através de longos planos conjunto e do zoom abrupto, que acaba soando um pouco desnecessário em alguns momentos, chegando a prejudicar minha imersão durante a projeção (embora faça total sentido para a narrativa quando bem utilizado).

    A atriz Kim Min-hee volta mais uma vez em sua parceria com o diretor, interpretando uma mulher aparentemente feliz em seu casamento, sempre destacando que era a primeira vez longe do marido depois de 5 anos. Todo o elenco feminino está fantástico, entregando linhas de diálogo com todo o naturalismo exigido pela proposta do filme. O grande destaque é Seo Young-hwa, que protagoniza uma de minhas cenas favoritas do ano, onde um vizinho pede para que ela pare de alimentar os gatos de rua para que eles parassem de voltar à vizinhança. A personagem responde sempre em um tom passivo-agressivo muito inteligente, mantendo o diálogo bastante cômico e desconfortável ao mesmo tempo. Uma decisão interessante foi a de mostrar os personagens masculinos, na maior parte do tempo em que aparecem na tela, de costas para a câmera, destacando o protagonismo das mulheres, que são o principal foco de estudo do projeto.

    O primeiro plano do filme traz galinhas presas dentro de um poleiro, que já marca a temática central: a prisão que as construções sociais impõem aos menos privilegiados, representados aqui pelas mulheres. Claro que outras interpretações podem surgir, já que o grande destaque da obra é o subtexto presente, assim como em outros trabalhos de Hong Sang-soo. A história que está sendo contada é engajante, principalmente pelo desempenho do elenco, mas o que se encontra sob o texto é que faz com que o trabalho ganhe força e se torne tão universal.

    A direção coordena muito bem os aspectos técnicos do filme, criando uma estrutura narrativa bem coesa. Em certo momento, a trilha sonora é composta em um tom para que o toque de um celular em cena seja complementar à música, tornando sua inserção mais natural para o espectador. Os zooms, embora me incomodem às vezes, têm um papel bem claro e eficiente, como quando o quadro fecha em uma tela com as imagens da câmera segurança de um prédio, constituindo uma metalinguagem que é abordada outras vezes durante o filme, culminando na cena final, onde o Cinema é mostrado como uma fonte de escapismo da realidade, transportando a protagonista para longe de sua opressão.

    Importante notar como ela muda o tom com que fala sobre seu casamento ao longo dos encontros com as amigas. Como era a única realidade conhecida pela protagonista, ela não tinha noção de sua condição, passando a notá-la à medida em que conhece outras histórias e observa outras vidas - em uma metáfora para o papel do próprio Cinema de despertar consciência no público. The Woman Who Ran é mais uma fantástica obra de Hong Sang-soo, que encerra o filme com um plano belíssimo, ainda fazendo referência a Na Praia à Noite Sozinha, um de seus trabalhos mais aclamados.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAN SEBASTIÁN 2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capitu e o Capítulo (2021)

Mangrove (2020)

Oscar 2022: Apostas para as Nomeações