Italian Studies (2021)

 
 
 ITALIAN STUDIES

Direção: Adam Leon

Ano: 2021

País de origem: EUA

    O que nos torna quem realmente somos? As outras pessoas moldam nossa identidade? Qual é a influência do ambiente no qual habitamos nesse processo? Desde o ano passado, a resposta a essas perguntas tornou-se mais difícil de ser alcançada, já que o lockdown e o distanciamento social isolaram a humanidade dentro de casas e apartamentos, impossibilitando o contato com o mundo exterior (pelo menos para aqueles que puderam ficar isolados). Assim, este novo filme de Adam Leon acaba tendo um impacto diferente do que havia sido imaginado durante suas filmagens numa realidade pré-pandemia.

    Alina Reynolds (Vanessa Kirby) entra num estúdio com o marido e acompanha a gravação de algumas músicas. Quando sai para fumar, uma jovem a aborda e conta da noite quando se conheceram durante uma festa, provocando feições faciais que exibem o quão confusa ela está no meio daquela conversa. A protagonista simplesmente não lembra de nada e acha que está sendo confundida com outra pessoa, mas o filme logo corta para o que parece ser um flashback em Nova York, embora nunca fique claro se estamos acompanhando passagens reais ou imaginadas. E respostas fáceis é exatamente o que o diretor não quer entregar nos seus breves 82 minutos.

    A personagem central é a autora do livro Italian Studies, mas parece esquecer completamente disso e de todo o resto de sua vida quando está fazendo compras numa loja de material de construção. Ela sai do estabelecimento e percorre as ruas da cidade sem rumo, uma ideia que surgiu quando a própria atriz pediu para o diretor colocá-la no meio de Nova York e desafiá-la enquanto artista. A partir deste ponto, a montagem (responsabilidade de 4 profissionais) fragmenta nosso ponto de vista em várias sequências que representam a desorientação sentida pela personagem. Sem memória sobre quem ela é, onde deve ir ou quem deve encontrar, Alina acaba vagando por um tempo que também não fica bem especificado até encontrar Simon (Simon Brickner), um adolescente desajustado e, assim como ela, sem rumo.

    É através dele que a protagonista começa a ter contato com outros jovens igualmente perdidos e sem qualquer certeza sobre o futuro. Leon é perspicaz ao utilizar adolescentes para falar sobre a busca por identidade, já que não existe qualquer outra faixa etária que sofra uma crise existencial tão grande. O caminho para se tornar um adulto é cheio de obstáculos, mas principalmente de vazios. Cada um que cruza o caminho da personagem está cheio de dúvidas sobre quem é e quem vai se tornar. O filme se apropria das características do coming of age para estudar a natureza humana de uma forma mais universal, ao mesmo tempo que trabalha uma metalinguagem bem interessante.
 
    Eventualmente, a escritora descobre sua profissão através de uma fã que a aborda na rua, o primeiro passo para começar a redescobrir sua identidade. Com uma narrativa claramente inspirada na filmografia do Hong Sang-soo, a direção mistura a realidade criada por Alina em sua obra com a diegese fílmica, pondo em dúvida aquilo que acreditávamos estar assistindo. Ela perdeu mesmo sua memória ou o que está sendo mostrado é o processo de criação de seus personagens? O importante é perceber como é sua arte que faz com que ela finalmente encontre um propósito para não mais vagar sem direção, pois agora existe uma motivação para que se encontre com o grupo de amigos de Simon.

    Todo o elenco juvenil (especialmente Brickner, num estudo de personagem incrível) brilha em seu realismo, uma encenação que contrasta muito bem com a realidade onírica criada pelos recursos formais. No entanto, a grande estrela é mesmo Kirby, recentemente indicada ao Oscar por outro trabalho de modesto orçamento. A atriz transita pela segurança das sequências situadas nos dias de hoje e pela confusão mental que domina a narrativa com maestria, embora sua atuação acabe constantemente sendo prejudicada pela semelhança com o que Scarlett Johansson faz em Sob a Pele (2013).

    Este, inclusive, é o principal problema do longa: as demasiadas referências usadas pela direção e pelo roteiro. Concomitantemente, Leon ainda não exibe uma característica autoral para distingui-lo, diferente do Sang-soo e suas tradicionais escolhas formais e temáticas. Outra questão que afeta a experiência de Italian Studies é o uso das diversas cenas de entrevistas com os personagens adolescentes, que acabam sendo um recurso preguiçoso para abordar os conflitos internos deles. Mesmo assim, o filme é uma experiência intrigante e que ganha novos contornos devido à situação na qual o mundo se encontra.

Texto publicado como parte da cobertura do Festival de Tribeca 2021

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