12 Mighty Orphans (2021)

 
 
12 MIGHTY ORPHANS

Direção: Ty Roberts

Ano: 2021

País de origem: EUA

    Em uma construção narrativa, dois fatores são base do que está sendo contado: tempo e espaço. No caso de 12 Mighty Orphans, o público é colocado no estado do Texas, durante a Grande Depressão, um período cuja desolação já fica bem clara nos primeiros planos, que mostram uma cidade interiorana quase sem vida, habitantes desmotivados e um sentimento coletivo de desesperança. Ambos os elementos citados nunca são introduzidos por acaso, são parte inerente da narrativa apresentada. Aqui não é diferente, já que o contexto histórico em questão é essencial para criar (ou, pelo menos, tentar criar) a grandiosidade que o filme quer impor à sua história de superação.

    Dessa forma, já fica bem evidente o quão manipulativo será a escolha tonal do diretor Ty Roberts, que concebe um filme digno da Sessão da Tarde da Rede Globo (e isso, com certeza, não é um elogio). Uma descrição básica da sinopse é uma evidência disso: Rusty Russell (Luke Wilson) leva sua família para morar em uma pequena cidade texana, onde irá trabalhar como professor e técnico do time de futebol americano em um orfanato habitado por jovens (a péssima escalação do elenco torna difícil acreditar que são adolescentes) vítimas de abandono, tanto por parte de suas famílias quanto da própria sociedade, a qual os joga sempre à margem.
 
    A encenação proposta por Roberts parece sempre usar vários filmes moralistas de Hollywood como inspiração, retratando a instituição familiar como o laço inquebrável das relações humanas, não apenas entre o protagonista e sua esposa, cujas turbulências são superadas magicamente, mas também na forma como os órfãos são abordados. Com exceção de Hardy Brown (Jake Austin Walker), nenhum dos outros garotos consegue tempo de tela para serem desenvolvidos, a não ser de forma coletiva, pois o que importa para o longa não é a individualidade cada um, ancorando-se na união deles como se formassem uma família (mais um dos vários clichês presentes).

    Entretanto, essas tentativas de construir um arco dramático geral encontra-se submetida à narrativa de busca por superação, reconhecimento e glória nos campos de futebol. Se as sequências focadas internamente no orfanato já são batidas, tudo que envolve os jogos são completamente previsíveis e genéricos, tentando sempre evocar as emoções do público das maneiras mais banais possíveis, reproduzidas repetidamente em filmes do gênero ao longo de décadas. Há também todo um arco envolvendo percalços que são colocados no caminho deles, jogando luz sobre personagens extremamente maniqueístas e mal escritos, além de acabar recorrendo a uma cena de tribunal patética.

    O péssimo aproveitamento de nomes como Martin Sheen e Robert Duvall é apenas um testemunho da direção pedante de Roberts, que ainda não demonstra qualquer domínio formal. A montagem é um exemplo perfeito disso e da maioria dos problemas do longa. Enquanto exibe uma decupagem quase amadora, os constantes cortes para imagens de arquivo e flashbacks encenados em preto e branco são a evidência final de um filme que não consegue ser sutil e sempre recorre ao didatismo e à manipulação barata do público.

Texto publicado como parte da cobertura do Festival de Tribeca 2021

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