Fabian - Going to the Dogs (2021)

 
 
FABIAN: GOING TO THE DOGS
 
Direção: Dominik Graf
 
Ano: 2021
 
País de origem: Alemanha / Áustria

    Depois de concorrer ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, a coprodução austro-alemã Fabian - Going to the Dogs chega ao público dos Países Baixos como parte da programação de junho do Festival de Roterdã 2021. Sob direção de Dominik Graf, o longa acompanha o personagem-título, publicitário de uma fábrica de cigarros, enquanto este se apaixona pela aspirante a atriz Cornelia (Saskia Rosendahl). Com os sacrifícios que ambos precisam fazer pela carreira da jovem, seu relacionamento começa a entrar em colapso.

    Descrevendo a história dessa maneira, fica evidente que não se trata de algo que fuja daquilo que já vimos muitas vezes no cinema ou na literatura. Porém, um filme não pode ser resumido ao seu conteúdo, sendo sua forma tão importante quanto (ou até mais). Dessa forma, o diretor recorre ao material que serviu de base para o roteiro, o livro de mesmo nome, com o objetivo de adaptar não apenas o que está sendo narrado, mas também a linguagem empregado pelo autor Erich Kästner, que ficou conhecido na época da publicação de sua obra pela utilização de ferramentas similares ao que os cineastas faziam na grande tela. Por exemplo, para reproduzir os constantes cortes do cinema, o escritor fazia transições rápidas entre as cenas do livro.

    Já na abertura do longa, somos colocados dentro de um metrô alemão dos dias de hoje e, em um mesmo movimento de câmera, subimos as escadarias e somos imediatamente arremessados na Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, uma época de incertezas e desolação no mundo, que ainda sofria pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Nesse contexto, não tinha lugar melhor para situar o encontro dos protagonistas do que num cabaré, ambiente que prosperou como uma forma de escapismo da cruel realidade europeia.
 
    O primeiro ato do filme é o maior expoente da tentativa de Graf em transferir as técnicas usadas por Kästner, saltando de cenários com a mesma velocidade com a qual apresenta novos personagens. A montagem reduz planos para uma duração muito pequena, o que ocasiona um enorme número de cortes, além de separar a tela em vários quadros ao mesmo tempo, criando um turbilhão de informações que deveriam ajudar a narrativa. No entanto, seu principal resultado é a confusão do espectador, pois torna-se impossível acompanhar a velocidade com que as fatos se sucedem. O que a direção não parece ter entendido é que os mecanismos de linguagem do livro queriam apenas representar a montagem cinematográfica clássica, tornando desnecessária essa sua vontade de manipulação formal extravagante.
 
    À medida que a história vai encontrando seu rumo, o diretor parece abandonar suas experimentações e torna a narrativa mais palatável. A partir desse ponto, o estudo de personagens fica evidente e bem mais interessante, já que os atores são colocados em destaque, principalmente o casal central e Albrecht Schuch, que interpreta Labude, melhor amigo do protagonista. Mesmo com a duração alongada mais do que o necessário, Graf consegue construir um épico da vida de um homem comum, cuja vida está um caos (assim como todo o mundo), que encontra no amor e na amizade a força motriz de seus dias. Uma história clássica que, infelizmente, nada condiz com as escolhas estéticas de sua hora inicial.
 
Texto publicado como parte da cobertura do Festival Internacional de Cinema de Roterdã 2021

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