Mad God (2021)

 
 
MAD GOD
 
Direção: Phil Tippett
 
Ano: 2021
 
País de origem: EUA

    As possibilidades oferecidas pela linguagem das animações foram exploradas exaustivamente durante a história do cinema e, mesmo assim, continuam a deslumbrar artistas e público quando colocadas nas mãos de quem sabe o que está fazendo. Este, com certeza, é o caso do especialista em efeitos visuais Phil Tippett, cujo trabalho já foi reconhecido com dois Oscars (Jurassic Park e O Retorno de Jedi). Durante três décadas, ele dedicou-se ao seu projeto de vida, Mad God, enfrentando diversos problemas de financiamento e produção. Embora muitos acreditassem que o filme nunca conseguiria ser laçado, o Festival de Locarno finalmente o apresenta ao mundo.

    Se a produção enfim conseguiu ver a luz do dia, o mesmo não pode ser dito dos bizarros personagens que habitam esse mundo pós-apocalíptico. Já na abertura, as referências bíblicas ficam evidentes, seja através da imagem que remete à Torre de Babel ou do texto que descreve a desgraça divina desencadeada pelos pecados da humanidade. Em seguida, um enigmático personagem mascarado desce dos céus e emaranha-se nas profundezas sombrias do planeta, vagando em meio a uma realidade desolada e povoada por seres. Sem a utilização de diálogos (pelo menos, em nenhuma língua conhecida), é difícil entender inicialmente quem ele é ou qual seu objetivo.
 
    Dessa forma, o diretor confia plenamente no poder de suas imagens, concebidas de forma meticulosa por meio de diversas técnica de animação. Tippett explora quase tudo que há disponível hoje em sua área, com grande destaque para o stop-motion, no qual ele é um dos maiores especialistas. Esteticamente, há um uso de texturas que lembram suas colaborações com Paul Verhoeven (RoboCop e Starship Troopers), do qual ele parece herdar também a abordagem política, ao mesmo tempo direta e orgânica à narrativa.
 
    É incrível como o diretor consegue transformar miniaturas em gigantes, uma magia cinematográfica que encanta, aterroriza e marca uma das maiores experiências da Sétima Arte em 2021. Uma odisseia pelo futuro caótico da nossa espécie, destruída pelo capitalismo selvagem que transforma seres vivos em máquinas. Quando os que nos olham do alto decidem agir, fica claro que a fúria dos deuses não é páreo para a crueldade humana. No fim, a maior de todas as forças, o tempo, condena tudo e todos ao esquecimento.
 
Texto publicado como parte da cobertura do Festival de Locarno 2021

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