Arthur Rambo

Arthur Rambo (2021) | MUBI

ARTHUR RAMBO

Direção: Laurent Cantet

Ano: 2021

País de origem: França

    Por quase toda a carreira, o francês Laurent Cantet apresentou sua visão sobre as instituições de seu país. Ganhador da Palma de Ouro em 2008, Entre os Muros da Escola desconstruiu qualquer visão estereotipada do sistema de educação, alcançando um incrível nível de realismo através da utilização de atores não profissionais, ao mesmo tempo que carregava um afeto muito sincero por cada personagem e pintava um mural da diversidade racial e cultural na França. É dessa obra-prima que surge o ator principal do novo trabalho do diretor, cuja estreia mundial aconteceu no Festival de Toronto.

    Karim (Rabah Nait Oufella) é a nova sensação da literatura francesa, tendo alcançado grande visibilidade com o livro no qual descreve a experiência de sua família de imigrantes argelinos, especialmente sua mãe, vivendo num lugar que não os aceita e sempre os colocou à margem. No entanto, uma antiga conta criada pelo protagonista em uma rede social, sob o nome de Arthur Rambo, acaba vindo à tona. Nas postagens, ele escrevia várias ofensas preconceituosas contra grupos minoritários, principalmente judeus e a comunidade LGBT. Desta forma, o filme tenta explorar a "cultura do cancelamento", mas infelizmente não chega a lugar algum.

    Na sequência de abertura, vemos Karim inicialmente com uma tela chroma key atrás dele, para só depois a câmera mostrar que estamos num estúdio de televisão, onde os monitores projetam o que é visto pela audiência, substituindo o verde de fundo por imagem criada por computação gráfica. O falso já nos é apresentado de cara, assim como a narrativa se dedicará a apresentar o protagonista sem filtros, sem qualquer tentativa de disfarçar sua personalidade. Cantet desnuda o personagem, mas não como um monstro ou uma celebridade superficial. Ao invés disto, adiciona camadas para torná-lo o mais complexo possível.

    Nesta tentativa de criar um arco tradicional de ascensão e queda, o diretor joga suas críticas não apenas sobre Karim, mas sobre público, executivos e a própria internet, sem nunca alcançar algo realmente relevante. Por mais que seja um estudo de personagem interessante, acaba perdendo-se na enorme quantidade temas que toca, nos quais nunca se aprofunda verdadeiramente. Diferente de outros trabalhos deste ano que abordaram o mundo mergulhado na era digital, como Zeros and Ones e France, Arthur Rambo não consegue articular uma mise-en-scène que reflita a temática. Com poucas exceções, o filme acaba sendo apenas mais um que tentou ser contemporâneo, mas sem trazer nada de novo, seja nas discussões sociais ou em aspectos cinematográficos.

Texto publicado como parte da cobertura do Festival de Cinema Internacional de Toronto 2021

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