7 Prisioneiros

7 PRISIONEIROS

Direção: Alexandre Moratto

Ano: 2021

País de origem: Brasil

    Os nomes de Fernando Meirelles e Ramin Bahrani como produtores executivos já são bons indícios de que tipo de filme é 7 Prisioneiros. Depois de estrear no Festival de Veneza, o projeto chegou a Toronto, onde o diretor Alexandre Moratto já havia apresentado seu longa-metragem de estreia Sócrates há poucos anos. Desta vez, ele volta a se reunir com sua estrela Christian Malheiros, o qual interpreta um jovem que sai de uma pequena cidade no interior para conseguir dinheiro em São Paulo e oferecer melhores condições de vida à família, mas acaba caindo num esquema de trabalho escravo contemporâneo.

    A sequência inicial, com uma pequena duração, já é capaz de oferecer todas as informações que precisamos saber sobre o protagonista Mateus, construindo um senso de afeto por ele através da relação com sua família, que aparece apenas no início. Isto apenas reforça a capacidade do filme em introduzi-los de forma eficiente, pois a presença indireta da mãe e das irmãs na tela é um ponto essencial para o arco do personagem central. A cena da viagem para São Paulo também é outro ponto central que reverberará mais a frente, com lindas imagens capturadas pelo diretor de fotografia João Gabriel de Queiroz, as quais ressaltam principalmente a verticalização do modo de vida, enfocando os grandes edifícios que compõem a paisagem urbana.

    Após estas duas sequências de abertura, o longa torna-se propositalmente claustrofóbico ao colocar o protagonista e os amigos quase sempre dentro do ferro velho onde trabalham. Com uma encenação que busca o realismo social, o diretor escala Rodrigo Santoro como o antagonista Luca, responsável por administrar o regime de escravidão no qual os garotos são obrigados a viver. O personagem pode até parecer maniqueísta inicialmente, mas o roteiro (assinado por Moratto e Thayná Mantesso) adiciona camadas ao longo do filme, especialmente pelos comentários feitos sobre desigualdade social como máquina para exploração humana.

    Assim, quando a câmera volta a respirar a liberdade das ruas metropolitanas, a sensação é outra: o deslumbramento do começo ao visualizar as maravilhas da grande cidade caem por terra, já que sabemos qual o mecanismo que move a vida de tantas pessoas, de quem são as mãos que sai a matéria-prima para os cabos de energia que fornecem energia para tantas residências, de quem são as mãos que trabalharam duro para construir aqueles arranha-céus e quem são as pessoas que governam tudo aquilo. Moratto constrói um filme que funciona como denúncia social sobre escravidão contemporânea, comentário sobre desigualdade socioeconômica e um intrigante estudo de personagem.

    Malheiros é responsável por encarnar um garoto cuja jornada é difícil de ser assistida. Ele passa por um inferno para descobrir a verdade sobre o sistema junto com o público, desafiando seus preceitos morais. O roteiro coloca os ideais de justiça e amizade do jovem contra a oportunidade de subir na pirâmide social à qual foi apresentado. A ideia neoliberalista de prosperar através do trabalho duro é apenas uma ilusão enquanto uns tiverem mais oportunidades do que outros por causa de seu poder financeiro.

    Embora todos os atores que interpretam os jovens trabalhadores estejam bem, o grande destaque é de Malheiros e Santoro, cujos personagens vivem constantes dilemas morais diante dos obstáculos que o sistema colocou no caminho deles. Moratto é competente na criação da mise-en-scène realista proposta, utilizando tons dessaturados para destacar o processo de industrialização que ainda repercute na vida da classe trabalhadora, embora tenha dificuldade em explorar as possibilidades oferecidas pelo cinema em termos de som e imagem. Além disso, falta dinamismo na construção de seus comentários políticos, que ficam sempre na mesma nota, característica marcante dos nomes dos produtores executivos.

Texto publicado como parte da cobertura do Festival de Cinema Internacional de Toronto 2021

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capitu e o Capítulo (2021)

Mangrove (2020)

Oscar 2022: Apostas para as Nomeações