Persona Non Grata (2021)



PERSONA NON GRATA

Direção: Lisa Jespersen

Ano: 2021

País de origem: Dinamarca

    Com estreia internacional durante o Festival de Gotemburgo, Persona Non Grata é o primeiro longa-metragem da diretora dinamarquesa Lisa Jespersen. Ela explora as diferenças entre as zonas urbana e rural através de um drama familiar, gênero característico da filmografia de seu país. No entanto, o tom difere da maioria das produções conhecidas daquele território, abordando as relações entre os personagens de uma maneira mais acessível ao público casual, apelando para um humor menos elaborado e para um drama com teor altamente moral.

    A protagonista deixou a fazenda da família quando era muito nova para viver na cidade grande, em busca de um estilo de vida que a fizesse feliz. No processo, acabou mudando seu nome de Laura para Irina (Rosalinde Mynster). Ela tornou-se uma escritora reconhecida através de seu primeiro livro, no qual descreve sua infância e adolescência no interior do país, retratando o local e as pessoas quase como monstros e apresentando todas as dificuldades que encarou, principalmente o bullying que sofria das garotas da região. Já adulta, precisa retornar pela primeira vez à sua cidade-natal para participar do casamento do irmão (Adam Ild Rohweder).

    Já na sua chegada, os choques culturais começam a se apresentar, quando a mãe (Bodil Jorgensen) questiona o motivo pelo qual a filha cortou o cabelo tão curto. A partir daí, é só ladeira abaixo. Irina descobre que sua cunhada é Catrine (Anne Sofie Wanstrup), justamente a menina que mais a assediou quando pequena, chocando-se como sua família teve coragem de acolhê-la depois de todos os horrores que ela deixou registrado no livro de sua autoria. O problema é que eles nunca leram o material, então não fazem ideia dos pensamentos da filha sobre aquele local e aquelas pessoas.

    Jespersen consegue emular bem o desconforto proveniente das relações complexas entre os personagens, mas falha ao não trabalhar a tragicomédia de uma maneira tão refinada quanto seus conterrâneos. O roteiro constrói o humor de maneira regular: em alguns momentos, há sacadas interessantes para arrancar um riso dos espectadores e fazê-los se sentir mal por aquilo; em outros, as piadas são tão óbvias que não conseguem provocar nada além de vergonha alheia pelo texto. Já o drama conduz a história para um conclusão moralista, com grande influência de produções hollywoodianas.

    Entretanto, o principal problema do longa é a forma como a diretora explora as diferenças entre a vida na cidade e no campo. Ela não tem nenhuma sutileza nesse aspecto da narrativa, entregando seus personagens para os maiores estereótipos possíveis, principalmente Irina e o namorado. Contudo, o filme ainda consegue construir uma mensagem legal e torna-se um produto competente de entretenimento.

Texto escrito por Matheus C. Fontes e publicado como parte da cobertura do Festival de Cinema de Gotemburgo 2021

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