Night of the Kings (2020)



NIGHT OF THE KINGS

Direção: Philippe Lacôte

Ano: 2020

País de origem: Costa do Marfim / França / Canadá / Senegal

    Depois de passar por uma série de festivais em 2020, Night of the Kings integra a mostra Spotlight do Festival de Sundance, em mais uma etapa de sua campanha para trazer a sua primeira indicação ao Oscar para a Costa do Marfim, o que seria não apenas um marco histórico para o cinema do país, mas de toda a África, sempre escanteada nas premiações internacionais. O diretor Philippe Lacôte tem uma grande participação no desenvolvimento artístico da região, já que seu filme Run (2014) marcou a retomada da produção cinematográfica e tornou-se apenas a segunda submissão deles ao prêmio de maior visibilidade do mundo.

    O filme abre com planos aéreos da floresta de Abidjan, que abriga MACA, a única prisão no mundo administrada por um condenado (pelo menos, a única conhecida pelo diretor, já que o sistema prisional brasileiro não está muito longe disso). Lá dentro, existe uma hierarquia de poder entre os detentos, estabelecida por uma série de mitos e crenças que regem o local. O líder máximo é o Dangoro, posição ocupada por um homem conhecido como Barba Negra (Steve Tientcheu). Ele tenta manter algum tipo de organização no meio daquele caos, em um momento no qual duas facções tentam tomar o poder. O problema é que Barba Negra está doente e, segundo as tradições, o Gangoro deve tirar a própria vida quando não tem mais condições de governar.

    Em meio a tudo isso, ele precisa encontrar um novo Roman, um contador de histórias, para quando a lua vermelha surgir no céu. A "Noite de Roman" é sua única chance de retardar o conflito pelo poder dentro da prisão. Com a chegada de um novo garoto (Bakary Koné), amedrontado diante dos companheiros de cela e praticamente mudo em sua chegada, Barba Negra finalmente encontra o tão esperado Roman.

    Com uma estrutura que não busca estudar seus personagens (o nome do protagonista nem chega a ser falado), Lacôte, que também escreveu o roteiro, está interessado em duas coisas. A primeira é explorar a história e a cultura efervescente do país, o que ele faz de forma linda. Aquele ambiente prisional não é visto apenas de uma maneira opressiva (há muito uso de grandes angulares para não tornar as imagens claustrofóbicas), mas como um universo próprio no qual a Costa do Marfim explode em danças performáticas, músicas com melodias folclóricas e em visuais únicos. Isso tudo com a ajuda de uma direção de arte competente, evocando um tom mítico através do figurino do Roman, da utilização da luz de velas e com imenso detalhismo até nas inscrições das paredes da prisão.

    O segundo objetivo do diretor é render uma homenagem ao ato de contar histórias, tornando o filme quase metalinguístico em algumas sequências. Quando a vida do recém-chegado depende de passar toda a noite construindo uma narrativa através das palavras e da oralidade, a obra alcança seus melhores momentos. Lacôte celebra a própria arte e lembra ao público o motivo pelo qual o ser humano é tão apaixonado pelo cinema, pela literatura, pela música e qualquer forma já inventada de nos transportar para uma outra realidade.

Texto escrito por Matheus C. Fontes e publicado como parte da cobertura do Festival de Cinema de Sundance 2021

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