A Glitch in the Matrix (2021)



A GLITCH IN THE MATRIX

Direção: Rodney Ascher

Ano: 2021

País de origem: EUA

    Texto escrito por Matheus C. Fontes

    Neo, um jovem programador, é atordoado por terríveis pesadelos, até descobrir que toda a sua vida na Terra é produto de um grande sistema computadorizado. Os corpos de todos os seres humanos estão, na verdade, conectados a uma grande máquina que cria todo aquele universo conhecido pela raça humana. Sim, esta é a sinopse de Matrix (1999), filme já clássico na cultura pop ao redor do mundo, dirigido magistralmente pelas visionárias irmãs Wachowski. A obra marcou uma geração e suas teorias foram amplamente debatidas ao longo dos anos. Mas e se não forem apenas teorias?

    É exatamente nisso que o documentarista Rodney Ascher está interessado. Ele está acostumado a conceber filmes que exploram temas bem peculiares, fornecendo ao espectador uma experiência imersiva e, às vezes, perturbadora. Sua estreia com Room 237 (2012) lançou luz sobre o clássico de terror de Stanley Kubrick, O Iluminado (1980), e sobre as diversas correntes de pensamento surgidas a partir dele, cuja legião de fãs continua a defender diversas ideias sobre os simbolismos deixados por um dos maiores gênios do cinema. Já The Nightmare (2015) explorou um fenômeno conhecido pela medicina como paralisia do sono, pela qual o diretor havia passado.

    Em Glitch in the Matrix, ele propõe discussões sobre a "teoria da simulação", que afirma que nossa existência como seres humanos é apenas uma simulação criada por algo similar a um computador. Talvez sejamos os avatares de um jogo que alguém (ou algo) está manuseando, assim como as realidades criadas por games super realistas surgidos nos últimos anos. Para isso, Ascher chama alguns indivíduos para relatar suas teorias a respeito e também suas experiências de vida que possam constatar tais ideias.

    Pode até ser um documentário sobre uma teoria da conspiração, mas não é exatamente isso o que conta, e sim como todos os argumentos dos entrevistados são estruturados e apresentados. No sentido visual, há decisões interessantíssimas, a exemplo da forma como os convidados são mostrados na tela, através de imagens criadas por computador, preservando suas imagens e evocando a essência que eles pensam possuir. Além disso, as sequências são construídas muitas vezes em formato de um jogo eletrônico com traços meio psicodélicos, deslocando o público para a visão de mundo construída ao longo dos quase 110 minutos de duração (o que poderia ser reduzido para retirar sequências que soam repetitivas).

    Outra decisão criativa muito bem explorada está na montagem, incorporando imagens famosas na cultura pop, principalmente filmes de ficção científica, sendo alguns deles a base para parte das teorias discutidas. Além de Matrix, boa parte são adaptações da obra de Philip K. Dick (Blade Runner e Minarity Report, só para citar alguns), cujo discurso na década de 1970 também é utilizado para discutir a teoria da simulação. Outros filmes, como O Show de Truman, e uma animação do Mito da Caverna, de Platão, são metáforas que alguns acreditam ser chaves para desvendarmos nossa real natureza.

    O principal problema do longa talvez seja a falta de posicionamento sobre o assunto. Não que Ascher precise expor sua opinião pessoal, mas é arriscado trazer à tona uma discussão como esta sem propor um balanço, principalmente quando tudo é estruturado para defender tais ideias. Há um único momento (talvez o melhor do filme) no qual há um estudo mais profundo sobre quem são essas pessoas por trás das imagens computadorizas e das vozes. Joshua Cooke expõe o relato mais complexo, ao contar sobre sua infância, quando era um grande fã de Matrix e, por causa do filme, assassinou sua família com uma arma de fogo. Tudo isso acompanhado por uma recriação computadorizada (e bem realista) a partir do ponto de vista de Cooke, tomando cuidado para não parecer sádico (por causa disso, nenhum corpo é criado pela animação 3D), mas servindo como uma advertência sobre os perigos de seguir teorias como esta e elucidando a existência de fatores psicológicos importantes.

    No entanto, é na ausência de uma exploração maior sobre a psique dos seguidores da teoria que o documentário mais falha. Ascher preocupa-se tanto em apresentar todos os aspectos da ideia de sermos parte de uma simulação, que esquece dos cérebros que pensam sobre isso e como são afetados por essa conspiração. Mesmo assim, o filme continua sendo muito bem construído e uma forma interessante de apresentar um assunto que pode (ou não) estar afetando a todos nós.

A Glitch in the Matrix abre em cinemas virtuais e on demand no dia 05 de Fevereiro

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