Leonor Will Never Die

Leonor Will Never Die (2022) - IMDb

LEONOR WILL NEVER DIE (Ang Pagbabalik ng Kwago)

Direção: Martika Ramirez Escobar

Ano: 2022

País de origem: Filipinas

    Em meio a tantos filmes com quase nenhuma personalidade selecionados para o Festival de Sundance este ano, Leonor Will Never Die é quase um milagre, trazendo um pouco de vida, entretenimento e paixão artística para o espectador. A diretora Martika Ramirez Escobar mergulha no gênero de ação do cinema filipino durante os anos 1980, seja visualmente, nos acontecimentos da história ou no humor absurdista característico.

    Acompanhamos a personagem-título (Sheila Francisco), uma diretora de cinema que fez muito sucesso anos atrás, enquanto ela encara um momento difícil em sua terceira idade: faz tempo que não trabalha, está divorciada, um de seus filhos morreu e está em constante conflito com o outro. Para completar, a conta de luz está atrasada três meses e a energia da casa está para ser cortada. No meio deste caos, seu único refúgio é a televisão. Quando finalmente recupera a vontade de voltar a escrever um roteiro, Leonor tem sua cabeça atingida por um aparelho de TV num trágico acidente que a coloca em coma. A partir daí, seu subconsciente mergulha na ficção, atravessando barreiras e dando origem a uma interessante brincadeira com metalinguagem.

    A diretora demonstra um carinho muito especial pela Sétima Arte, seja na narrativa do filme dentro do filme, como também na primeira diegese, onde a protagonista encontra vida nos filmes que assiste, um energia pela qual é impossível não ser contagiado, o que explica o que falei no início do texto sobre ser uma exceção na seleção amorfa do festival. A paixão de Martika também fica evidente num ponto de vista formal, com a sobreposição digital de planos, criando o personagem do filho falecido Ronwaldo (Anthony Falcon). Seu espírito vaga pela tela, assim como o passado do cinema filipino toma conta da narrativa, com um trabalho delicado do montador Lawrence S. Ang, que intercala ambas diegeses com um fluxo bem controlado para que não caia numa confusão de ideias, além de uma montagem eficiente e simbólica para o gênero. Porém, é a fotografia de Carlos Mauricio que realmente traz os fantasmas do audiovisual de volta, com um controle de câmera admirável e um ótimo uso de cores e saturação.

    Este pode ser apenas o primeiro longa-metragem de Martika, mas já é um chamado de atenção para seu nome e futuros trabalhos. Ela parte de uma homenagem ao cinema de seu país, mas alcança um força que ressoa em qualquer um apaixonado por essa arte de imagem e som, seja cineasta ou cinéfilo. E é por isso que a performance de Sheila Francisco ressoa tanto: é o retrato da paixão por aquilo que nos tira da realidade e nos transporta para outras dimensões. Tudo isso com uma linguagem popular, muita alegria e humor, culminando na linda sequência final, a esperança de que a arte nunca morrerá.

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