IFFR 2022 - Parte #1

ASSAULT

Direção: Adilkhan Yerzhanov

Ano: 2022

Países de origem: Cazaquistão / Rússia

    Um dos trabalhos mais interessantes e pouco reconhecidos dos últimos anos é A Dark, Dark Man (2019), dirigido por Adilkhan Yerzhanov, um nome que já merecia lugar entre as grandes promessas dos festivais europeus, mas que por algum motivo permanece colocado à margem. Com seu novo filme, não é diferente. Assault estreia na Competição Tela Grande do Festival de Roterdã, uma mostra paralela que não faz jus à atenção que o diretor merece.

    Embora não seja tão fantástico quanto seu longa de 2019, este novo trabalho carrega algumas de suas melhores características autorais. Estamos de volta ao vilarejo fictício que serve de palco para as narrativas criadas por Yerzhanov, mas desta vez totalmente tomada pelo intenso inverno. As experimentações com gêneros permanece, indo do suspense à comédia num mesmo plano, sempre com um incrível controle de tom. A fotografia do Aydar Sharipov inunda a tela novamente com muita técnica, mas também com bom uso dessas a favor da narrativa (o posicionamento milimétrico dos atores é fator essencial).

    Talvez a comparação com o melhor do diretor seja meio injusta, mas é impossível não notar uma simplificação no caminho até sua mensagem política. Seu ódio pelas instituições falidas do país continua tão palpável quanto antes, mas ele parece mais interessado em toda a manipulação de tom e gênero durante o segundo ato do que necessariamente no clímax, o que não é algo negativo em sua totalidade, embora não carregue a potência que poderia ser trazida pela ideia de oposição entre os mascarados e as autoridades.


A CRIANÇA

Direção: Marguerite de Hillerin, Félix Dutilloy-Liégeois

Ano: 2022

Países de origem: Portugal / França

    A dupla de diretores franceses Marguerite de Hillerin e Félix Dutilloy-Liégeois vão até Portugal no século XVI para acompanhar uma dinâmica familiar conturbada e bastante simbólica do período. O protagonista foi adotado por um casal cujo filho partiu numa caravela, mas nunca retornou. O substituto, quase que um remanescente de Vertigo, planeja escapar com sua amada para a terra natal dela, Marrocos.

    À medida que aquele núcleo familiar torna-se cada vez mais inconsistente quando comparado à imagem do piquenique idílico na primeira cena, segredos são revelados e as aparências iniciais são subvertidas. A apreensão pelo nascimento do herdeiro do trono é motivo de apreensão, o país está perdendo seu poder aos poucos, enquanto as instituições espalham o terror. Colonialismo, escravidão e inquisição são apenas alguns dos temas levantados por A Criança, uma representação de Portugal perdida no meio do nada. Paisagens isoladas e com a capacidade de isolar seus personagens em seus próprios mundos (ou em seus próprios planos, com close-ups poderosos).


MET MES

Direção: Sam de Jong

Ano: 2022

País de origem: Holanda

    O holandês Sam de Jong inunda a tela com um mundo psicodélico vanguardista, quase como num filme do Bertrand Mandico, para fazer uma espécie de sátira sobre tensões sociais e a maneira como cineastas as abordam em seus trabalhos. Eveline (Hadewych Minis) é uma celebridade da televisão que pede demissão e decide fazer uma documentário sobre a "vizinhança". Quando sua câmera é roubada, ela decide aumentar a história na delegacia, mas tudo acaba fugindo de seu controle e uma série de tragédias são desencadeadas.

    O tipo de encenação proposta, a qual ironiza as temáticas e propõe uma frontalização dos sentimentos, confere um tom de excentricidade desconcertante, mas é trabalhado com muita habilidade pelo elenco, sendo Shahine El-Hamus a grande estrela aqui. No entanto, o controle tonal está longe da perfeição, caindo numa abordagem extremamente cartunesca. Inclusive, o diretor parece se divertir com o abuso dos extremos, seja na fotografia digital limpa, as cores bastante saturadas, as diversas subversões nos enquadramentos e movimentos de câmera. Tudo isto cria uma mise-en-scène do excesso, cuja extravagância formal suprime qualquer narrativa sociopolítica eficaz que pudesse existir.

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