Chicago International Film Festival 2021 - Parte #3


WHAT DO WE SEE WHEN WE LOOK AT THE SKY?

Direção: Aleksandre Koberidze

Países de origem: Geórgia / Alemanha

    O cinema georgiano recente vem produzindo obras cada vez mais empolgantes e dominando os festivais internacionais. Depois da estreante Déa Kulumbegashvili vencer a Concha de Ouro em San Sebastián ano passado, este ano é Aleksandre Koberidze que chama atenção da comunidade cinematográfica para seu país. É interessante notar que ambos realizadores possuem estilos completamente diferentes: enquanto a primeira mergulha num realismo mórbido permeado com alguns poucos momentos de exploração de metáforas, What Do We See When We Look at the Sky? é um abraço completo na fantasia, encontrando a magia no cotidiano de uma pequena cidade.

    A câmera de Faraz Fesharaki está interessada em filmar tanto a geografia do local em planos abertos quanto os detalhes da interação humana entre si e com o meio. É esta dialética que rege a narrativa do filme, interligando constantemente a humanidade dos pequenos gestos de afeto e desafeto com cada elemento que compõe aquela paisagem, seja cachorros de rua, árvores, um rio ou uma ponte. Desta forma, Koberidze mergulha o público numa fábula excêntrica, mas também delicada, uma das experiências mais intrigantes e marcantes do ano.

    A partir de um acontecimento mágico, os protagonistas mudam de aparência e perdem-se no meio das pessoas que habitam a cidade. O amor deles torna-se quase impossível de se concretizar, eles são estranhos, assim como antes do acaso reuni-los pela queda de um livro. A fantasia da literatura é aberta àquele universo, preenchendo cada plano com um senso de encantamento que nos cativa a ponto de ser impossível tirarmos os olhos da tela, a não ser quando o próprio realizador pede que os fechemos. O momento mais mágico do longa é exatamente quando somos privados de um dos elementos básicos do cinema: a imagem. E é por causa disto que nossa imaginação é despertada, somos convidados a imaginar os frames que nos foram ocultados naqueles segundos, um convite a vivermos nossa própria fantasia.

 

THE WORST PERSON IN THE WORLD

Direção: Joachim Trier

Países de origem: Noruega / França / Suécia / Dinamarca

    A abordagem pop do cinema de Joachim Trier continua evidente em seu mais novo trabalho, The Worst Person in the World. Ele propõe um estudo de personagem que é sentido mais como o estudo de uma geração, perdida na pós-modernidade do século XXI, incapaz de tomar decisões em meio ao bombardeio das informações digitais. Através de uma estrutura dividida em capítulos, Julie (Renate Reinsve, vencedora de Melhor Atriz em Cannes) vive momentos que moldarão a maneira como ela vê o mundo a partir de seus 30 anos. Qual carreira profissional quero seguir? Quero engravidar? Este é realmente o amor da minha vida? São muitos os questionamentos, mas ela está sempre disposta a viver cada momento e descobrir as respostas, embora estas talvez nunca existam. Mesmo que a opção pelo melodrama na última meia hora não funcione bem com o restante, este ainda é um lindo retrato de um mundo que está começando a descobrir novas possibilidades numa era de constantes mudanças.


THE BETA TEST

Direção: Jim Cummings / PJ McCabe

Países de origem: EUA / Reino Unido

    Apesar dos bons momentos de comédia através de uma sátira envolvendo um agente de Hollywood, The Beta Test sofre pela falta de cuidado com a flutuação entre esse primeiro lado e o thriller psicológico que passa a atormentar do protagonista. Os diretores, que também atuam no filme, não são capazes de trabalhar a linguagem cinematográfica a favor de sua narrativa, com exceção de alguns planos aéreos de Los Angeles, os quais enfatizam a cidade como um símbolo dos temas debatidos. A sombra dos escândalos despertados pelo movimento ME TOO pairam por todo o longa, mas infelizmente não chega a ser discutido de forma satisfatória, perdendo-se num discurso que nunca sabe exatamente qual é seu foco.

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