Chicago International Film Festival 2021 - Parte #1


HIT THE ROAD

Direção: Panah Panahi

País de origem: Irã

    A utilização do carro como cenário de grande parte de Hit the Road já evidencia as influências de Panah Panahi no cinema de seu país, em especial no trabalho de seu pai, de quem parece herdar algumas características autorais, embora seja capaz de encontrar um estilo próprio.

    Na primeira metade do filme, existe um trabalho de criação constante de tensão, especialmente pelas informações que vão sendo reveladas aos poucos. Os personagens já estão no meio da estrada na cena inicial, fazendo com que o espectador não tenha qualquer ideia de onde eles saíram ou para onde estão indo. Aliado à suspeita de que estão sendo seguidos, isto faz com que duvidemos de quase tudo que está sendo apresentado (O pai está mesmo com a perna quebrada? Por que o irmão mais velho está tão calado?).

    Os longos planos, que inicialmente criavam tensão, são convertidos num dispositivo para potencializar sentimentos na segunda metade. Ao optar por planos bem abertos, Panahi ainda utiliza as lindas paisagens da fronteira do Irã com a Turquia com o mesmo objetivo, embora não recorra ao melodrama por completo. Existe também um fator cômico que perpassa todo o longa e ajuda no tom desconcertante, seja pelo humor do pai ou pelo comportamento hiperativo do filho mais novo.

    Mesmo que a mão estreante de Panahi fique evidente em alguns momentos, algumas decisões criativas, como as composições visuais que unem a beleza estética com seu propósito narrativo, deixam claro que o legado do cinema iraniano ainda vai se perpetuar por muito tempo.

PARIS 13TH DISTRICT 

Direção: Jacques Audiard

País de origem: França

    O filme parece ter inspiração direta no cinema de Hong Kong e Taiwan dos anos 90, principalmente pela forma como vê o ambiente urbano e a pós-modernidade como meios que alteram as relações humanas (as primeiras imagens em preto e branco de Paris deixam isso claro). No entanto, Audiard parece defender uma ideia mais esperançoso do que a dos asiáticos, encontrando o amor no meio do ritmo caótico da era digital. Embora o diretor proponha esse diálogo, não existe uma abordagem formal que se alinhe completamente com os autores que parecem ter inspirado o longa: a decupagem e o ritmo da montagem lembram brevemente o cinema de fluxo, mas o filme está comprometido com o plano; ao abordar a velocidade dos relacionamentos contemporâneos, não a contrapõe como os adeptos do slow cinema, abraçando o caos (que alcança seu máximo com a divisão da tela em planos distintos).

AMPARO

Direção: Simón Mesa Soto

Países de origem: Colômbia / Alemanha / Suécia

    A estreia de Simón Mesa Soto a frente de longas-metragens é um resgate histórico acima de qualquer outra coisa. Ele retorna à Colômbia dos anos 1990 para jogar luz sobre a realidade do autoritarismo militar do país, especialmente numa época em que uma parada de ônibus poderia ser um local de risco para um jovem parar no meio de um conflito armado. Neste sentido, o filme faz um trabalho competente ao mostrar os fatores políticos da guerra, a qual era mantida pelo sangue de jovens que não tiveram a sorte de nascer numa família com boas condições financeiras. Um dos personagens diz que “a guerra é para os pobres”, e é por isso que acompanhamos a jornada angustiante da protagonista pelo dinheiro que pode trazer seu filho de volta para casa.

    No entanto, essa tentativa do diretor de fazer um comentário histórico-social acaba limitando as possibilidades dramáticas do seu filme. Não existe qualquer esforço para dar profundidade à personagem central, limitada a sofrer em frente às lentes que querem apenas mais uma das várias visões maniqueístas do cinema contemporâneo.

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