Chicago International Film Festival 2021 - Parte #2

GREAT FREEDOM

Direção: Sebastian Meise

Países de origem: Áustria / Alemanha

    Great Freedom tinha todos os fatores para ser mais um filme que explora a miséria humana de maneira propositalmente maniqueísta, mas Sebastian Meise consegue aliar seu resgate histórico com um estudo de personagem que é sentido quase como um estudo sociopolítico. A fuga dos clichês de produções semelhantes fica evidente na decisão de manter a mise-en-scène confinada ao espaço da prisão, uma escolha que explora o senso de confinamento ao qual homens homossexuais eram submetidos pela lei vigente, além de suprimir eventos históricos ao trauma causado posteriormente.

    Para isto, Franz Rogowski concebe cada olhar e expressão corporal de Hans com imensa delicadeza, mesmo nas sequências mais físicas. O personagem não cai na maior parte dos problemas de dramas gays de época. Ele não nega sua sexualidade, nem mesmo tenta, por isso continua voltando ano após ano para as grades do sistema, o qual não cansa de observar cada movimento de seus cidadãos, como fica evidente já nas primeiras imagens em Super 8 (uma brincadeira interessante com a natureza voyeurística do espectador cinematográfico).

    Embora Meise tente abordar a temática de forma diferente, ele não consegue fugir de todos os problemas que cercam os dramas sociais. A degradação humana é consumida pela câmera da mesma forma que tantos outros já fizeram antes. No entanto, existe uma ressignificação, através da última sequência, de muito do que vimos da vida do protagonista até então. Assim como a queda de Hitler pouco mudou a realidade de sofrimento daqueles subjugados pela sociedade, a revogação do parágrafo 175 era apenas uma liberdade ilusória. A cada elipse no meio da escuridão assustadora da solitária, Hans tornava-se mais prisioneiro daquelas paredes. Seu mundo passava a pertencer aos espaços por trás das grades. Qual seria, então, o sentido de viver sua sexualidade em outro ambiente claustrofóbico, escondido dos olhos públicos, se o sistema já havia condenado sua existência, seus amores e amizades a um outro tipo de prisão?

 

BERGMAN ISLAND

Direção: Mia Hansen-Løve

Países de origem: França / Bélgica / Alemanha / Suécia / México

    Mia Hansen-Løve parece fazer um trabalho extremamente pessoal ao comentar o próprio processo criativo. Na primeira metade do filme, um casal de cineastas vaga pela ilha que inspirou grande parte dos longas do Bergman, carregando ao mesmo tempo uma examinação daquele relacionamento e um passeio por aquele paraíso cinéfilo. Este ato inicial parece não levar para lugar algum, principalmente pela decisão de introduzir a ideia de história dentro da história na segunda metade.

    A ideia de metalinguagem da diretora aparentemente nasceu de seu próprio processo de escrever aquele segundo filme, o qual nasce dentro de outra ideia. Entretanto, este jogo acaba refém de uma falta de funcionalidade de cada parte separadamente. Além dessa experimentação com a estrutura e do comentário sobre a concepção de um filme, não existe destino para os temas tocados pelo primeiro ato, muito menos para a narrativa introduzida posteriormente.

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