The Woodcutter Story


 

THE WOODCUTTER STORY (Metsurin tarina)

Direção: Mikko Myllylahti

Ano: 2022

Países de origem: Finlândia / Países Baixos / Dinamarca / Alemanha

    Não é nenhuma surpresa descobrir que Mikko Myllylahti, cuja estreia como diretor de longas-metragens está na Semana da Crítica este ano, é o roteirista de O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki, o qual venceu a mostra Un Certain Regard em 2016. Ambos os filmes carregam estruturas e temáticas narrativas semelhantes, apesar de abordagens bem diferentes. A sobriedade e naturalidade de Juho Kuosmanen são substituídas pela fantasia e excentricidade de The Woodcutter Story.

    A intersecção entre as duas obras está exatamente na jornada de seus protagonistas, os quais enfrentam diversas provações e violências para, ao final, encontrarem catarse nos pequenos detalhes da vida. São roteiros que não estão tão distantes dos filmes "feel good" de Hollywood, no sentido de destacar a bondade no mundo e nas personagens, embora rejeitem os caminhos clichês e fáceis para chegar a tal sentimento. Entretanto, como já mencionado, os dois textos de Myllylahti também diferem bastante entre si, e são as características próprias de sua mise-en-scène que conferem a autoralidade responsável pelo sucesso deste filme.

    As personagens parecem viver num conto de fadas inicialmente, sendo Pepe (Jarkko Lahti) a grande imagem da aparente harmonia daquele universo coberto de neve, um ser de plena bondade. Mas, como o prólogo anuncia, não demora muito até que aquele paraíso seja corrompido, e nada mais apropriado do que tudo ser desencadeado por uma grande empresa que desestabiliza a economia local. A partir daí, relações familiares são destruídas, assassinatos cometidos, cultos religiosos se formam com a promessa de mostrar o sentido da vida e o próprio vilarejo vem abaixo em revoltas populares.

    Myllylahti demonstra um grande controle de sua narrativa, conseguindo alcançar muitas áreas e facetas da nossa sociedade através de uma comunidade que parece tão distante da realidade. Personagens quase apáticos tanto quando tentam demonstrar emoção quanto nos momentos em que cometem as mais terríveis ações. No meio do frio desolador do inverno, é prometida esperança ao protagonista pela figura mais sobrenatural deste conto sobre a humanidade.

    É interessante notar como o diretor e os departamentos técnicos trabalham visualmente a maculação daquele local. O cotidiano apático é simbolizado pelos tons frios da paisagem natural e dos figurinos da maioria dos habitantes do vilarejo, enquanto o cores quentes aparecem pontualmente para causar um contraste importante nas composições visuais. O vermelho é o ápice de tudo isto, à medida que está presente nos locais das cenas de quebra de harmonia, como a cortina do quarto do barbeiro e o fogo de um dos momentos principais do terceiro ato. No entanto, vermelho também é a cor do figurino de Pepe, escolha que simboliza a narrativa cíclica apresentada: para que possa existir esperança, é necessário o caos.

    É surpreendente que uma obra tão poderosa tenha sido selecionada justamente para a Semana da Crítica de Cannes, pois merecia um lugar de maior destaque no festival. Humor ácido, fantasia e sociopolítica em um universo que aparenta estar, ao mesmo tempo, próximo e distante do nosso mundo. Myllylahti, com certeza, é um nome para se ficar atento no futuro.

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