#01 2021 SFFILM FESTIVAL



NAKED SINGULARITY

Direção: Chase Palmer

Ano: 2021

País de origem: EUA

    Conhecido por escrever o roteiro da adaptação cinematográfica do livro It, de Stephen King, Chase Palmer estreou seu primeiro trabalho na direção de longas-metragens na abertura do Festival Internacional de Cinema de São Francisco na última semana. Trabalhando ao lado de David Matthews, ele parte uma vez de um livro como material-base. Nesse caso, trata-se de A Naked Singularity, premiado livro de estreia de Sergio De La Pava, uma obra que mistura ciência, filosofia e teorias da conspiração para discutir o sistema judiciário norte-americano.

    Na história, o defensor público Casi (John Boyega), no início de sua carreira, tenta fazer seu trabalho de forma quase idealista, crente de que o sistema irá funcionar e fazer a coisa certa. Uma crença que, logo no primeiro caso que acompanhamos, irá ruir diante da indiferença da juíza Cymbeline (Linda Lavin), uma figura caricata que já deixa claro o tom do filme. O outro ponto focal do longa é Lea (Olivia Cooke), cliente do protagonista por pequenos crimes cometidos no passado. Ela trabalha no departamento de polícia de Nova York, tentando reconstruir sua vida, até que se envolve com Craig (Ed Skrein) e consequentemente em um esquema para recuperar drogas que ficaram dentro de um carro que foi apreendido.

    Assim como no livro, o filme parte de uma conceitos quase aleatórios para formar sua narrativa. O absurdo das situações apresentadas tiram o espectador de qualquer expectativa de realidade. Cena após cena, somos bombardeados com novas ideias sobre aquele universo sem nenhum cuidado do roteiro para que soem verossímeis. Parece que o diretor queria brincar com essa aleatoriedade de eventos, mas não consegue articular bem tudo que está colocando na tela, diferente do brilhantismo de outros autores que já usaram essa abordagem do abusrdo, como Quentin Tarantino em muitos de seus trabalhos (inclusive a espada de samurai utilizada aqui me remeteu bastante a Pulp Fiction, embora seja uma comparação que apenas joga Naked Singularity ainda mais para baixo).

    Palmer é capaz até mesmo de sabotar a crescente na carreira recente de sua estrela. Depois de um trabalho brilhante na série Small Axe, Boyega rende-se a um filme B que recebeu destaque demais de um festival que tinha tantas joias para colocar em destaque, mas preferiu apelar para o entretenimento em sua abertura.





CRYPTOZOO

Direção: Dash Shaw

Ano: 2021

País de origem: EUA

    Chegando ao Festival de São Francisco já com prêmios em Sundance e em Berlim, Cryptozoo ainda rende o Persistence of Vision ao diretor Dash Shaw, que concebe um dos filmes mais visualmente impressionantes dos últimos anos. Já na primeira cena, somos introduzidos a um casal que caminha pela floresta questionando-se se estão perdidos e acabam dormindo sob as estrelas. Os traços e as cores psicodélicas desta sequência denunciam a loucura que o público está para testemunhar, mas é difícil dizer que algo é capaz de nos preparar para uma obra que parece ser resultado de uma enorme mistura de substâncias psicodélicas.

    A narrativa principal gira em torno de um grupo que tenta criar um santuário para crytos, seres fantásticos que parecem ser uma mistura de diferentes conceitos, como mitologia grega, biologia animal, crenças maias muitas outras bases teóricas. O primeiro deles que vemos é um unicórnio lindamente desenhado e cuja estética leva o espectador a experimentar uma sensação positiva, até que, no momento seguinte, o chifre perfura o peito de um personagem e uma carnificina acontece. Todo o filme é baseado nesse caos de quebra de expectativas, começando pelas técnicas de animação nada convencionais utilizadas.

    Essa proposta visual psicodélica, que flerta com o surrealismo em alguns momentos, provoca um efeito até desnorteador no público pela realidade criada. No entanto, o experimentalismo proporcionado pela animação entra em embate com a história super convencional do roteiro, centrada em uma discussão sobre preservação ambiental e respeito aos animais. Falta ao texto um pouco da ousadia visual na qual o diretor nos imerge, uma viagem que faz o público questionar se alguém não colocou algo na sua bebida.

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